Tema central

A dinâmica das relações Brasil-China e as perspectivas para a neoindustrialização


Nueva Sociedad Novembro - Dezembro 2024

Desde janeiro de 2023, com a nova gestão do presidente Lula, há uma oportunidade de recolocar as relações sino-brasileiras em uma trilha coerente. A China volta a ser vista pelo governo como uma importante parceira para promover a neoindustrialização do Brasil sobre bases tecnológicas e ambientais. Nesse contexto, investimentos chineses em transição energética têm um importante papel a cumprir, com destaque para os investimentos da empresa chinesa BYD no setor automobilístico.

<p>A dinâmica das relações Brasil-China e as perspectivas para a neoindustrialização</p>

Introdução

Entre 2019 e 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro, esferas das relações Brasil-China – que deveriam estar interligadas – se desvencilharam uma da outra: enquanto o trilho econômico-comercial seguiu tendências de intensificação, com o aumento do comércio e a consolidação dos investimentos, o trilho das relações político-diplomáticas, tensionado pelas constantes críticas à China e pela não priorização do país na política externa, seguiu caminho distinto, de distanciamento. A partir de janeiro de 2023, com o início da nova gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contudo, mudanças começaram a ser processadas. A oportunidade de recolocar as relações sino-brasileiras em uma trilha coerente, na qual seja recuperado o nexo entre o lado político e o econômico das relações, transformou-se em uma das prioridades. Em especial, há uma tentativa de qualificar as relações com a China para que estas possam auxiliar os objetivos do governo de neoindustrialização do país.

Desde a transição, a meta central da nova gestão de Lula foi «reindustrializar o Brasil e promover uma inserção internacional mais competitiva»1. Com esse intuito, em janeiro de 2024 foi lançado o plano Nova Indústria Brasil (nib) visando impulsionar a neoindustrialização do país até 2033. A China, como principal destino comercial do Brasil e importante fonte de investimento estrangeiro direto (ied) no país, é vista como importante parceira nessa empreitada. Contudo, há desafios para que esse papel se viabilize.

Primeiro, o comércio Brasil-China, antes de ser um indutor da industrialização nacional, tem sido apontado como uma das causas da desindustrialização do país, ou, pelo menos, um dos fatores que agravaram esse processo. A elevação da China a primeira parceira comercial do Brasil em 2009 foi acompanhada da reprimarização da pauta exportadora concentrada basicamente em três produtos, que correspondem a quase 80% do total das exportações brasileiras ao gigante asiático ao longo dos anos: soja não processada, petróleo bruto e minério de ferro. Segundo, os investimentos chineses no Brasil, apesar de estarem passando por um processo de diversificação nos últimos anos, não foram colocados como parte de uma estratégia nacional de desenvolvimento capaz de produzir capacidade industrial-tecnológica endógena.

Assim, pergunta-se: qual papel a China pode cumprir para o Brasil a fim de reverter o processo de desindustrialização e promover uma nova industrialização sobre bases tecnológicas e ambientais? Essa é a questão que orienta este artigo. Entende-se que os investimentos chineses, se aproveitados pelo Brasil dentro de uma política de desenvolvimento nacional, podem cumprir um papel importante. Como estudo de caso, avaliamos os investimentos em transição energética, com o foco na empresa chinesa byd (Build Your Dreams). Argumentamos que, a partir do governo Lula (2023-), o Brasil tem buscado repactuar as relações com a China de modo que o país e os investimentos das empresas chinesas possam responder à demanda pela neoindustrialização.

Além dessa introdução, este artigo conta com mais quatro partes. Na segunda, destacamos brevemente o histórico das relações entre os países, de modo a mostrar o aumento da importância da China para o Brasil desde quando os países retomaram suas relações diplomáticas, em 1974, até as primeiras décadas do século xxi. Na terceira, apontamos para a chegada dos investimentos chineses ao Brasil, a partir da década de 2010, e para o fato de que, apesar de crescentes, tais investimentos responderam mais à dinâmica das oportunidades apresentadas e das estratégias de internacionalização das empresas chinesas do que a alguma política nacional de desenvolvimento. Além disso, analisamos as relações Brasil-China no governo Bolsonaro e pontuamos que, mesmo que as relações político-diplomáticas tenham se deteriorado, a dinâmica comercial permaneceu. Na quarta parte, analisamos a reorientação das relações no terceiro governo Lula, que objetiva tornar a China (e seus investimentos) parceira na política nacional de neoindustrialização. Avaliamos, ainda que preliminarmente, os recentes investimentos em eletrificação, com foco na byd. Também nessa parte, explicamos por que a perspectiva é de que a China possa aceitar a repactuação das relações bilaterais nos termos pretendidos pelo governo brasileiro. Na quinta seção, enfim, apresentamos as nossas conclusões.

Histórico das relações Brasil-China

O Brasil e a República Popular da China reestabeleceram relações diplomáticas em 1974, no contexto da retomada das relações entre a China e os países do bloco capitalista no contexto da Guerra Fria. Em 1978 foi celebrado o primeiro acordo comercial entre os países, enquanto a década de 1980 e o início dos anos 1990 foram marcados pela celebração de uma série de acordos que se construíram na base para o desenvolvimento das relações, em especial a parceria científica e tecnológica.

No período, a diplomacia brasileira enxergava que as relações com a China apresentavam grande potencial para a realização de objetivos políticos e econômicos brasileiros. Do lado econômico, a expectativa de acesso ao mercado consumidor chinês poderia potencializar as exportações, principalmente de bens industrializados, o que, juntamente com as reformas modernizantes chinesas, abriria nova frente para atuação das empresas nacionais no exterior, em especial no setor de infraestrutura. Do lado político, a China era vista como um país que tinha alguns posicionamentos internacionais semelhantes aos do Brasil e com o qual, apesar de estar no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (onu), podia-se relacionar em pé de igualdade2. Do lado chinês, havia grande interesse em conhecer a experiência de desenvolvimento de um país que, como a China, tinha dimensões continentais. Foi esse o contexto de celebração da parceria estratégica entre os países, em 19933.

Naquele momento, havia a pressuposição, de fato, de que os dois países poderiam desenvolver uma parceria em pé de igualdade: eram dois países continentais, localizados na periferia do mundo e que tinham problemas de desenvolvimento e posições econômicas parecidas, com pib de valores não muito díspares. O baixo crescimento brasileiro na década de 1990, de um lado, e a grande evolução do desenvolvimento chinês, por outro, contudo, criaram uma assimetria cada vez maior entre Brasil e China que só se aprofundou nas décadas seguintes4. No final da década de 1990, o Brasil começou a consolidar com a China relações comerciais baseadas na troca de bens primários por produtos manufaturados, o que foi impulsionado pelo crescimento da demanda chinesa por matérias-primas, alimentos e produtos energéticos. Na década seguinte, em paralelo à perda de competitividade da indústria brasileira, o estilo do padrão centro-periferia das relações comerciais se aprofundou com duas características constantes: a existência de um superávit do lado brasileiro, devido à exportação de um volume expressivo e crescente de matérias-primas que escondeu o déficit na manufatura, e uma concentração da pauta exportadora em três produtos, que correspondem a mais 80% do total de forma constante ao longo dos anos: soja, petróleo, minério de ferro.

Apesar disso, no início da década de 2000, a diplomacia brasileira permanecia observando a China como tendo grande potencial para contribuir para o desenvolvimento nacional5. Em termos políticos, a atuação conjunta em coalizões com outros países do Sul global, em especial a partir das primeiras duas gestões de Lula (2003-2010), foi vista como importante para a projeção internacional brasileira. Do lado econômico, permaneceu o interesse em ampliar o acesso ao mercado chinês e promover a internacionalização das empresas nacionais em sua direção, além de impulsionar as vendas de bens primários, vistas como importantes para o saldo da balança comercial brasileira.

Em 2004, ano que marcou 30 anos de aniversário da retomada das relações diplomáticas entre os países, Brasil e China criaram a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (cosban). Voltada a operacionalizar a parceria estratégica estabelecida 11 anos antes, a cosban passou a estruturar diálogos e trocas constantes entre os países e impulsionou a visão da China como parceira relevante para o desenvolvimento nacional, em especial devido à sua consolidação como primeira parceira comercial do Brasil, em 2009. O superávit com a China foi um dos fatores que garantiram ao Brasil o acúmulo de reservas internacionais que transformou o país de devedor em credor em dólar. Isso tudo explica a resiliência do Brasil perante a crise financeira global de 2008. As próprias relações políticas entre os países se expandiam, naquele momento, para a atuação multilateral conjunta, via bric (posterior brics, grupo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o que também contribuía para a projeção brasileira no mundo. Foi nesse cenário que se avançou em 2012 para a parceria estratégica global e criou-se o Diálogo Estratégico Global entre Brasil e China, visando a articulação dos países para a atuação em temas da agenda global.

Os investimentos chineses no Brasil e a gestão Bolsonaro

Foi na década de 2010, ainda no governo de Dilma Rousseff, que se intensificou a chegada dos investimentos chineses ao Brasil no contexto da política de internacionalização das empresas chinesas, sobretudo estatais. Visando garantir melhor controle sobre matérias-primas, alimentos e produtos energéticos, bem como acessar e explorar vantagens competitivas, as empresas chinesas aprimoraram seu processo de internacionalização respondendo ativamente às oportunidades que a cena internacional, marcada ainda pelos vestígios da crise de 2008 (que favoreceu fusões e aquisições com empresas de outros países), e o Brasil, em suas políticas de concessão e privatização, ofereceram.

Durante a gestão de Rousseff (2011-2016), a diplomacia brasileira, ciente das assimetrias no comércio entre os países, passou a reivindicar da China «reciprocidade», que naquele momento significava a atração de investimentos chineses ao país como elemento compensatório para o padrão comercial problemático6. Com a saída de Rousseff do governo, contudo, os investimentos chineses foram chegando sem o estabelecimento de um plano sobre como aproveitá-los em função de objetivos nacionais.

O Brasil se tornou, na segunda década do século xxi, um dos cinco principais destinos de ied chinês. Dados do Ministério da Economia, referentes ao período entre 2003 e o terceiro trimestre de 2019, mostram um total de ied de 80,5 bilhões de dólares estadunidenses, com concentração em grandes projetos, sobretudo na área de energia (petróleo) e eletricidade. Dados do Conselho Empresarial Brasil-China, entre 2007 e 2022, apontam que o setor de hidroeletricidade (com 45,5%) e petróleo (com 30,4%) absorveram a maior parte dos 71,6 bilhões de dólares que empresas chinesas investiram no Brasil7. Nos dois casos, as estatais chinesas se posicionaram em poucos anos como um dos principais players no país. Para as empresas chinesas State Grid e China Three Gorges (ctg), por exemplo, o Brasil é o principal destino de investimentos externos e prioridade das suas estratégias de internacionalização8.

O governo de Michel Temer (2016-2018) continuou contando com a chegada de investimentos chineses, mesmo com o Brasil optando por permanecer fora da Iniciativa do Cinturão e Rota (bri, na sigla em inglês)9. A presença de empresas chinesas inclusive começou a se diversificar com a presença de investidores privados e envolvendo outros setores, como a Huawei, no setor de telecomunicações, e a byd, no setor automobilístico. Contudo, não houve nenhuma estratégia por parte do governo brasileiro no período para tentar orientar os investimentos chineses para algum objetivo específico.

A rapidez e a concentração setorial da presença do capital chinês no Brasil chamaram a atenção10 e pareciam, em 2018, ter encontrado uma resistência na figura do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro. Em fevereiro daquele ano, Bolsonaro tornou-se o primeiro candidato a visitar Taiwan desde que o Brasil reconheceu a República Popular da China no início dos anos 1970. Durante a campanha, Bolsonaro retratou a China como predatória, acusando Pequim de estar «comprando o Brasil». Contudo, os investimentos produtivos chineses não sofreram impacto significativo, e isso vale mais ainda pela corrente de comércio, que continuou crescendo no período. Pode-se dividir em três fases as relações sino-brasileiras durante o governo Bolsonaro11. O primeiro período, entre 2019 e o começo de 2020 (até antes do início da pandemia), teria sido caracterizado por um relativo pragmatismo nas relações. Apesar de haver um discurso crítico em relação à China por parte de alguns agentes do governo – como o então ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que teria citado a China como uma aposta em «parceiros errados» e criticado o «mundo pós-americano» do brics12 –, concretamente prevaleceram os interesses dos grupos econômicos e políticos que tinham intenção em expandir as relações com a China. Organizados em volta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Vice-Presidência da República, no Ministério da Economia e no Congresso Nacional, principalmente nas frentes parlamentares do brics e das relações Brasil-China, bem como por meio de organizações como o Conselho Empresarial Brasil-China (cebc), grupos minério e agroexportadores, que inclusive constituíam base de apoio importante para o governo Bolsonaro, lutaram para rebaixar a retórica sinofóbica de agentes como Araújo e imprimir dinamismo nas relações bilaterais. Foi por causa de pressões do Ministério da Agricultura, por exemplo, que o Brasil apoiou o candidato chinês à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (fao) em 2019 (em detrimento de um candidato da Geórgia apoiado pelos eua que o Ministério das Relações Exteriores queria chancelar)13 e, ainda, realizou uma importante missão comercial na China em busca da expansão do comércio e atração de investimentos. O vice-presidente Hamilton Mourão, em retomada das reuniões da cosban, e Bolsonaro chegaram a visitar a China em 2019, bem como Xi Jinping veio ao Brasil para a reunião regular dos brics naquele ano.

Contudo, a partir de 2020, as relações na seara político-diplomática – mais do que do lado econômico – foram abaladas, entrando-se em nova fase. O início da pandemia de covid-19 e o aumento das tensões nas relações sino-estadunidenses tiveram impacto nas relações Brasil-China. Cabe lembrar que desde o início de sua gestão (ou antes até, no período de sua campanha eleitoral), Bolsonaro acenou para um alinhamento da política externa brasileira com os eua do presidente Donald Trump, na época em guerra comercial e tecnológica com a China. Enquanto em 2019 as pressões estadunidenses sobre o Brasil para que o país contribuísse para a contenção da China foram manejáveis e contrabalanceadas por grupos econômicos e políticos pragmáticos, em 2020 a influência desses grupos decaiu para segundo plano14. O governo Trump (2017-2021) tinha aumentado a pressão sobre os países da América Latina para que embarcassem na política estadunidense de contenção à China, indicando que os países deveriam evitar desde as vacinas até o 5g de empresas chinesas, Huawei em particular. Diante disso, a Embaixada da China no Brasil abandonou o tradicional tom amigável e apaziguador das declarações diplomáticas e passou a responder de forma dura às acusações realizadas pela família Bolsonaro à China, aludindo aos riscos e para possíveis impactos nas relações bilaterais15. No início de 2021, diante do atraso na importação de insumos farmacêuticos ativos (ifas) da China que deveriam ser usados para a produção de vacinas de covid-19 no Brasil, e da proximidade da divulgação da minuta de edital pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para o leilão nacional do 5g (que poderia impor restrição a utilização de equipamentos de empresas chinesas), as tensões chegaram ao ápice. Contudo, a mudança das condições externas e a pressão de grupos econômicos e políticos internos para recuperar as relações conseguiram normalizá-las. Houve inclusive articulações no Congresso Nacional para defender as relações sino-brasileiras. Lançou-se, por exemplo, um grupo de trabalho parlamentar sobre o 5g para acompanhar a minuta de edital da Anatel e evitar impedimentos à atuação de empresas chinesas no país16. Os governos subnacionais, que já haviam se transformado em importantes interlocutores com a China, também contribuíram para imprimir normalidade as relações. Exemplo é o caso da primeira vacina contra a covid-19 aplicada no país. Ela foi possível devido à atuação do Estado de São Paulo, que, por meio do Instituto Butantan, realizou acordo com um laboratório chinês. Assim, o edital para 5g da Anatel foi publicado em setembro de 2021 sem colocar impedimentos a empresas chinesas.

Uma importante observação a ser feita é que, mesmo diante dos piores momentos nas relações bilaterais, o lado econômico permaneceu com forte dinamismo. A corrente de comércio entre os países cresceu. Em 2018, antes portanto do início do mandato de Bolsonaro, a corrente entre os países era da ordem de 99 bilhões de dólares, e em 2022 já estava em 50 bilhões de dólares. A participação da China nas exportações brasileiras permaneceu estável: enquanto em 2018 o país foi destino de 27,6% das vendas brasileiras, em 2022 foi de 26,8%, tendo alcançado um pico de 31,3% em 2021. A China se manteve ainda como maior origem de importações para o Brasil no período e maior fonte de superávit comercial17. Os investimentos diretos chineses no país também foram fortalecidos, a ponto de em 2021 o Brasil ter sido o país que mais recebeu investimentos chineses no mundo18. Isto ocorreu porque os interesses econômicos que cercam as interações sino-brasileiras são muito concretos e criaram ao longo das últimas décadas uma interdependência, mesmo que assimétrica, entre os países. Para produtos como soja, petróleo, carnes e minério de ferro, a China se constituiu como compradora essencial para os exportadores brasileiros, ao passo que, para a China, a importação de produtos como a soja – para a qual o Brasil é seu principal fornecedor – é essencial19. A concretude desses interesses manteve o dinamismo comercial entre os países, apesar da retórica sinofóbica de alguns agentes do governo e da própria família Bolsonaro. Bem como, do lado dos investimentos, a China foi reconhecidamente pragmática para aproveitar as oportunidades que o Brasil ofereceu.

A repactuação das relações no novo governo Lula

Com a chegada do governo Lula para um terceiro mandato, a partir de 1 de janeiro de 2023, o Brasil adotou como uma meta central a nova industrialização do país. Para ter êxito, isso deveria incluir uma repactuação das relações com a China, não obstante a avaliação geral das relações serem positivas. O Brasil possui, por exemplo, um grande superávit comercial e já é um grande receptor de investimentos chineses. Permanece, porém, o desafio de alterar o padrão comercial centro-periferia entre os países. Para que a China pudesse contribuir para a neoindustrialização, seria necessário garantir que os seus investimentos e financiamentos fossem integrados em uma estratégia nacional para criar e fortalecer uma base industrial-tecnológica endógena. Para isso é preciso, primeiramente que essa estratégia exista. Os governos de orientação neoliberal de Temer e Bolsonaro certamente não tinham essa preocupação. E o mesmo vale para os setores de agroexportação e mineração que exportam produtos não processados e não veem nenhum problema. Os próprios investimentos e financiamentos chineses poderiam ter um papel no adensamento da cadeia produtiva no próprio Brasil, por exemplo no processamento de lítio até a fabricação de motores elétricos, ao invés de exportá-lo na forma bruta.

Assim, a partir do início do novo governo Lula, as discussões sobre investimentos pautaram uma nova agenda entre os países organizada à luz da preparação e do lançamento em janeiro de 2024 da Nova Política Industrial20. O ano de 2023 marcou uma volta do Brasil ao cenário internacional, com uma série de viagens internacionais do presidente Lula a todos os cantos do mundo. Mas, sem dúvida, a viagem com maior impacto foi para a China em abril de 2023. Vários analistas classificaram a agenda do presidente brasileiro como uma «retomada», «renovação» e até como uma «refundação» das relações bilaterais; outros lançaram a ideia de uma repactuação21. Nos vários encontros, os países firmaram o compromisso de incentivar as «empresas dos dois países a fazer investimentos recíprocos, em particular nas áreas de infraestrutura, transição energética, logística, energia, mineração, agricultura e indústria, sobretudo de alta tecnologia»22. Houve uma clara mudança nas demandas do governo brasileiro. Durante as gestões de Temer e Bolsonaro, o Brasil mostrava-se satisfeito com o status das relações, sem atentar minimamente ao processo de desindustrialização. Tampouco havia preocupação com o declínio da indústria manufatureira23. Nessa cena, os investimentos chineses foram conduzidos na ausência de um plano sobre como poderiam contribuir para a modernização da estrutura produtiva interna24. Lula pautou a alteração disso porque entendeu que o Brasil nunca vai superar a condição periférica, a pobreza e o emprego precário de milhões ao se acomodar em ser uma grande fazenda com mineração. Ou seja, a ideia não é mais somente comprar painéis solares e equipamentos para gerar energia eólica com os dólares da exportação de matéria-prima, mas desenvolver conjuntamente novas tecnologias para energia limpa no Brasil, fortalecendo empresas e centros de pesquisa nacionais. Isso significa ampliar o leque de atores do lado brasileiro que participam da relação com a China e mudar o olhar do país asiático para o Brasil.

Investimentos em eletrificação

Um exemplo em construção são os novos investimentos chineses no setor automobilístico, que se diferenciam das montadoras ocidentais e japonesas instaladas por já virem com a mais nova tecnologia de carros elétricos e híbridos. A ideia é que esses novos investimentos sejam inseridos numa política nacional de eletrificação do transporte apresentado no programa de Mobilidade Verde (mover) lançado pelo Governo Lula no final de 2023 e que visa fortalecer a produção local de veículos de menor emissão25. Segundo Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, «o Brasil é um dos principais mercados automobilísticos do mundo. Temos de estimular a indústria nacional em direção a todas as rotas tecnológicas que promovam a descarbonização, com estímulo aos investimentos na produção, manutenção e criação de empregos de maior qualificação e melhores salários»26. Das várias empresas chinesas do setor automobilístico que chegaram ao Brasil e/ou começaram a exportar para o Brasil, o destaque ficou com a byd. Trata-se de uma empresa privada, fundada em 1995 na China como produtora de baterias. Com muito êxito, especializou-se em energias limpas e mobilidade elétrica. A companhia se encaixa nas metas estratégicas do governo chinês anunciadas no programa industrial-tecnológico Made in China 2025, que elegeu a mobilidade elétrica como uma das prioridades para a China se tornar líder mundial. A empresa chegou ao Brasil em 2014, construindo uma unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (p&d) para veículos elétricos e mantém uma parceria com a Unicamp: o Centro Brasileiro de Referência em Energia Solar Fotovoltaico, maior laboratório da byd na América do Sul. A empresa sentiu a necessidade de investir em capacidade de p&d no Brasil para poder adaptar sua tecnologia às circunstâncias específicas (tropicalização), mas também visando acessar e mobilizar a competência tecnológica na área da sua atuação existente, sobretudo no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (cnpem), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e na Unicamp, ambos situados em Campinas. Em outra vertente de negócio, em 2016, a byd começou a montar chassis para ônibus elétricos em Campinas e, em 2017, painéis solares. Cerca de um terço dos 3 mw de energia solar instalados no Brasil no final de 2019 contava com tecnologia da byd. Mas foi em 2023, no primeiro ano do governo Lula, que a presença da empresa deu um salto: a partir das negociações realizadas com a ajuda do governo federal brasileiro e governo do Estado da Bahia, a byd confirmou a tomada da antiga fábrica da Ford em Camaçari, anunciando um investimento de longo prazo no Brasil visando a produção de veículos elétricos e híbridos, o que significou um upgrade da presença industrial no país. Foi inclusive um dos principais temas levantados pelo presidente Lula na mencionada viagem à China.

Espera-se a geração de 10.000 empregos e um investimento que deve alcançar 5,5 bilhões de reais (equivalente a cerca de 1 bilhão de dólares), segundo a empresa. «A produção completa dos carros na Bahia deve começar entre 2024 e 2025 e terá capacidade instalada de 150.000 veículos por ano na primeira fase de implantação, podendo chegar a 300.000 veículos numa segunda etapa»27. A empresa deve ainda construir prédios residenciais para os funcionários da fábrica com capacidade para 4.230 trabalhadores e se comprometeu a buscar contratação de serviços e peças no mercado nacional. Acompanhando o investimento fabril, a byd anunciou ainda um Centro de p&d em Salvador para desenvolver um carro híbrido combinando etanol e energia elétrica: «Queremos apoiar a Bahia, especialmente a região de Camaçari, a se tornar o Vale do Silício do Brasil», teria afirmado Wang Chuanfu, ceo e fundador da byd28. É cedo para afirmar se está sendo construindo um exemplo de uma nova pactuação que deveria ser estendida e ampliada. Um elemento que deve entrar na avaliação é como a empresa vai organizar a integração vertical da exploração e beneficiamento do lítio, passando pela fabricação de baterias, até a produção de ônibus e automóveis. No início de 2024, o presidente do Conselho da byd Brasil, Alexandre Baldy, declarou que está se organizando para o desenvolvimento e o investimento em lítio e outros minerais nos estados de Minas Gerais e na própria Bahia como parte da estratégia de fazer do Brasil um hub regional na América Latina. Ou seja, quebraria com a lógica de mera exportação do minério para depois importar a bateria pronta para montar na sua fábrica em Camaçari. O desenvolvimento desse exemplo depende em grande medida do compromisso do governo brasileiro e do governo do estado da Bahia a partir de políticas industriais-tecnológicas. A prova do pudim será a avaliação sobre se esses investimentos contribuirão ou não com a ampliação de uma capacidade tecnológica endógena e o aumento da formação bruto de capital fixo.

A oportunidade de uma repactuação na relação com a China

A discussão sobre como aproveitar o ied a serviço do desenvolvimento nacional já estava presente no pensamento desenvolvimentista latino-americano. No início da década de 1960, Celso Furtado escreveu que é preciso uma ação do governo «que discipline a ação do capital estrangeiro, subordinando-o aos objetivos do desenvolvimento econômico e da independência política»29. Na época, isso se referia aos capitais vindos dos eua e da Europa. Embora o desafio seja o mesmo com relação ao capital chinês, a aposta é que se pode avançar mais nesse caso pelos motivos enumerados a seguir. Primeiro, a própria China fez esse movimento de sair da condição periférica incorporando com êxito os investimentos estrangeiros em sua estratégia de desenvolvimento30. Segundo, porque embora a relação comercial-econômica que se estabeleceu entre Brasil e China espelhe a lógica centro-periferia, a China não é um país imperialista e é parte do Sul global; logo, pode ser cobrada para promover, não só na retórica, mas também na prática, uma cooperação Sul-Sul, ou, no jargão chinês, «win-win», com um «w» de mesmo tamanho para cada um. No final das contas, a China aposta em sua ascensão como um país líder do mundo em desenvolvimento ou do Sul global, oferecendo alternativas práticas para os países e, com isso, disputando influência com os eua. A diplomacia da vacina, sobretudo no início da pandemia de covid-19, é um bom exemplo disso. No caso do Brasil, ela envolveu a transferência de tecnologia e fabricação no Brasil da vacina CoronaVac em parceria com o Instituto Butantan do governo de estado de São Paulo31.

Terceiro, uma questão mais recente é a escalada da rivalidade com os eua e, por tabela, embora em menor intensidade, com a Europa. Haveria, por parte da China, um interesse em investir e consolidar uma relação duradoura com a segunda maior economia do hemisférico americano por motivos geopolíticos. Quarto, embora a lógica das empresas chinesas, estatais ou não, seja de garantir o máximo de retorno sobre seus investimentos, conquistar mercados e garantir acesso a matérias-primas, é fato que há uma certa capacidade de ingerência centralizada por parte do Partido Comunista Chinês que tornaria mais fácil uma pactuação com objetivos e metas de médio-longo prazo. Em troca dessa repactuação, o que o Brasil pode oferecer à China, além de mercado e matérias-primas, é o reconhecimento e a legitimação do multilateralismo com características chinesas. Além da posição estratégica como grande país em desenvolvimento no continente americano, o Brasil dispõe hoje de um outro ativo muito valorizado pela China: uma liderança experiente e carismática com capacidade excepcional de dialogar com os mais diversas setores da comunidade internacional. Uma alternativa à hegemonia estadunidense liderada pela China se torna muito mais forte e influente se contar com a participação do Brasil e, em particular, com o Brasil de Lula. Os dois governos têm hoje compromissos compartilhados para lançar, por exemplo, uma aliança pela erradicação da fome e da pobreza ou uma articulação do Sul Global no combate às crises climáticas. Esse é o Brasil que não existiu como opção para a China nos últimos seis anos. A nomeação de Dilma Rousseff para a Presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (nbd), conhecido como Banco dos brics, é uma valorização da liderança de Dilma, mas ao mesmo tempo do próprio nbd, que é sediado em Xangai.

Nesse sentido, a visita de Lula em 2023 foi o começo dessa repactuação, que deve avançar com a presença do Xi Jinping na Cúpula do g-20 no Rio em 2024, ocasião na qual inclusive serão comemorados os 50 anos da relação diplomática Brasil-China. A China espera que parte desse processo seja a esperada adesão à bri, e isso faz parte do processo. Um processo que deve dialogar com a estratégia de uma nova industrialização e com o processo de integração latino-americano, outra prioridade brasileira para a qual se espera encontrar na China uma parceira.

Conclusões

As relações Brasil-China, em especial os investimentos chineses no Brasil, se colocadas dentro de uma política de desenvolvimento nacional, podem cumprir um papel importante ao país. Apesar de Brasil e China já terem relações econômicas bem estabelecidas, a demanda pela neoindustrialização, a partir do novo governo Lula, gerou o interesse no Brasil de repactuar as relações com a China de modo que atendessem à construção de uma nova indústria em bases tecnológicas e ambientais.

A repactuação das relações é tarefa única do governo e da sociedade brasileira, que encontrará resistência de parte da classe plutocrata internamente, que quer limitar a relação com a China a mais do mesmo, concentrada na agroexportação. As oportunidades estão na mesa. Tudo vai depender de como o governo e a sociedade brasileira conseguirão aproveitar esse momento da política interna e externa.

  • 1.

    Gabinete de Transição Governamental: «Relatório final», 22/12/2022, p. 32, disponível em https://gabinetedatransicao.com.br/noti-cias/relatorio-final-do-gabinete-de-transicao-governamental/.

  • 2.

    Letícia Pinheiro: «Restabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China: uma análise de tomada da decisão» em Estudos Históricos vol. 6 No 12, 1993.

  • 3.

    A.T.L.M. de Sousa: «Relações Brasil-China: interesses, questões e resultados», tese de doutorado em Relações Internacionais, Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, UNESP / Unicamp / PUC-SP, São Paulo, 2016.

  • 4.

    A.T.L.M. de Sousa: «A construção de padrões comerciais nas relações Brasil-China» em Brazilian Journal of International Relations vol. 10 No 3, 2021.

  • 5.

    Oswaldo Biato Jr.: A parceria estratégia sino-brasileira: origens, evolução e perspectivas (1993-2006), FUNAG, Brasília, 2010.

  • 6.

    A.T.L.M. de Sousa: «Relações Brasil-China: interesses, questões e resultados», cit.

  • 7.

    Tulio Cariello: «Investimentos chineses no Brasil 2022: Tecnologia e transição energética», Conselho Empresarial Brasil-China, 2023.

  • 8.

    G. Romano Schutte: Oásis para o capital - solo fértil para a corrida de ouro: A dinâmica dos investimentos chineses no Brasil, Appris, Curitiba, 2020.

  • 9.

    A China convidou em 2018, durante a Cúpula China-Celac, os países da América Latina a participarem da bri. O Brasil optou por não aderir à iniciativa, não porque tivesse algum problema com o projeto chinês, mas porque considerou que não haveria alteração de custos e benefícios nas relações, mesmo se optasse por não participar. Apesar de o Brasil não ter aderido à bri, pode-se dizer que a forma de atuação e a presença chinesa no país segue a mesma lógica dos países signatários da bri, gerando as mesmas oportunidades e desafios.

  • 10.

    Destaca-se que apesar do crescimento do ied chinês, nas estatísticas do Banco Central do Brasil (Bacen), a posição de investimento direto no país (IDP) chinês é ainda muito inferior aos dos EUA e Europa. Dados referentes a 2022, por exemplo, mostram um valor de IDP para o capital estadunidense como controlador final de 191,6 bilhões de dólares contra 29,9 bilhões de dólares de capital produtivo chinês. Banco Central do Brasil: «Relatório de investimento direto 2022», Brasília, 2022, p. 26.

  • 11.

    A.T.L.M. Sousa et al.: «Entre desarranjos e contradições: as relações Brasil-China no governo Bolsonaro» em A.T.L.M. Sousa, Gilberto Maringoni e Giorgio R. Schutte (orgs.): Pragmatismo irresponsável: política externa e inserção internacional do Brasil no governo Bolsonaro, Telha, Rio de Janeiro, 2023.

  • 12.

    «A novos diplomatas, Araújo diz que país ‘não venderá alma’ para exportar minério de ferro e soja» em Folha de S. Paulo, 11/3/2019.

  • 13.

    Raquel Landim: «Indicação para fao fica entre China e Geórgia e preocupa agronegócio» em Folha de S. Paulo, 9/4/2019.

  • 14.

    A.T.L.M. de Sousa et al.: «Relações Brasil-China durante a pandemia: abalos no pragmatismo» em Diego A. Azzi, Gilberto M.A. Rodrigues e A.T.L.M. de Sousa (orgs.): A política externa de Bolsonaro na pandemia, OPEB/ FES, São Bernardo do Campo, 2020.

  • 15.

    A.T.L.M. de Sousa: «O uso do Twitter como ferramenta diplomática pela China: uma análise a partir das relações Brasil-China» em Conjuntura Austral vol. 13 No 62, 2022.

  • 16.

    A.T.L.M. de Sousa, Rafael Abrão e Vitor Hugo Santos: «Entre a subserviência e o pragmatismo: o Brasil perante o 5g» em OIKOS vol. 20 No 1, 2021.

  • 17.

    Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), disponível em https://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis.

  • 18.

    Túlio Cariello: «Investimentos chineses no Brasil 2021: um ano de retomada», Conselho Empresarial Brasil-China, Rio de Janeiro, 2022.

  • 19.

    G. Romano Schutte e Reinaldo Campos: «Soy, China’s Food Security and the Brazil Supply» em Latin American Perspectives vol. 49 No 5, 2022.

  • 20.

    Governo Federal Brasil: «Nova Indústria Brasil. Forte, Transformadora e Sustentável. Plano de Ação para a Neoindustrialização 2024-2026», disponível em www.gov.br/mdic/pt-br/composicao/se/cndi/plano-de-acao/nova-industria-brasil-plano-de-acao.pdf.

  • 21.

    G. Romano Schutte: «Para repactuar relação com a China, Brasil deverá resistir à pressão interna e externa» em Brasil de Fato, 19/4/2023.

  • 22.

    Brasil, Ministério das Relações Exteriores: «Declaração conjunta entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre o aprofundamento da parceria estratégica global», Pequim, 14/4/2023.

  • 23.

    Carlos E. Vidigal e Raúl Bernal-Meza: «Bolsonaro versus Rio Branco: transição hegemônica, América do Sul e política externa» em Revista de Relaciones Internacionales, Estrategia y Seguridad vol. 15 No 2, 2020.

  • 24.

    A.T.L.M. de Sousa, Rafael A. F. Abrão e Luís Filipe de Souza Porto: «A China na política externa do terceiro governo Lula: cem dias de reconstrução» em Conjuntura Austral vol. 14 No 68, 2023.

  • 25.

    Presidência da República: «Mover: Programa de Mobilidade Verde é lançado», 30/12/2023, disponível em www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2023/12/mover-novo-programa-amplia-acoes-para-mobilidade-verde-e-descarbonizacao.

  • 26.

    Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços: «Imposto de importação para veículos eletrificados será retomado em janeiro de 2024», 10/10/2023, disponível em www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2023/novembro/imposto-de-importacao-para-veiculos-eletrificados-sera-retomado-em-janeiro-de-2024.

  • 27.

    «BYDanuncia aumento de investimento no Brasil para r$5,5 bilhões», 18/3/2024, disponível em https://byd.com.br/byd-anuncia-aumento-de-investimento-no-brasil-para-r55-bilhoes/.

  • 28.

    «BYDchega à Bahia e lança pedra fundamental do complexo industrial de Camaçari», 10/10/2023, disponível em https://byd.com.br/byd-agora-e-baiana-e-inaugura-o-complexo-fabril-simbolo-da-nova-industria-brasileira/.

  • 29.

    C. Furtado: A Pré-Revolução Brasileira, 2a ed., Fundo de Cultura, Rio de Janeiro, 1962, p. 22.

  • 30.

    Tomás Costa de Azevedo Marques e G. Romano Schutte: «An Analysis of the Chinese Inward fdi Development and Regulation Policy and the Five-Year Plans» em Brazilian Journal of Political Economy vol. 44 No 2, 4-6/2024.

  • 31.

    Instituto Butantan: «A parceria tecnológica que fez da CoronaVac a vacina do Brasil», 18/1/2021, disponível em https://butantan.gov.br/noticias/a-parceria-tecnologica-que-fez-da-coronavac-a-vacina-do-brasil.

Este artículo es copia fiel del publicado en la revista
ISSN: 0251-3552
Artículos Relacionados

Newsletter

Suscribase al newsletter

Democracia y política en América Latina