Artículo
NUSO Nº Junho 2012

Por que agora não há mais fogo? Luzes e sombras do Estado de Bem-Estar estadunidense

Apesar das recentes manifestações, os mecanismos estatais estadunidenses – que combinam políticas sociais com diversas modalidades de controle policial – parecem estar sendo efetivos para evitar a transformação da crise econômica em um movimento de massas de trabalhadores e excluídos. O artigo analisa detalhadamente como funciona essa complexa rede nos eua, com um Estado de Bem-Estar construído desde o New Deal sem chegar a diminuir as profundas desigualdades sociais. Há um dado particularmente emblemático: 2,4 milhões de estadunidenses – na maioria afro-americanos e hispânicos – estavam presos no final de 2008, a mais alta taxa de encarceramento do mundo.

Por que agora não há mais fogo? Luzes e sombras do Estado de Bem-Estar estadunidense

Os economistas dizem que em junho de 2009 os Estados Unidos finalmente emergiram da sua pior queda desde a Grande Depressão, embora a evidência disso pareça ser escassa. Um ano depois, o desemprego ainda estava em 9,5% e atingia 16,5% de acordo com a pesquisa de maior alcance realizada pelo Departamento do Trabalho. O desemprego de longa duração chegou a um pico histórico e a pobreza voltava a aumentar, depois de uma baixa durante o boom dos anos 90 : apenas entre 2004 e 2007, mais de 30% dos estadunidenses estiveram abaixo da linha de pobreza pelo menos uma vez. Como as estatísticas oficiais tendem a subestimar a pobreza, e esses números ainda não abrangem o período da Grande Recessão, que começou em dezembro de 2007, a situação era certamente pior.

Em 2008, 40% dos 40 milhões de estadunidenses pobres eram muito pobres, tendo acesso a rendimentos inferiores à metade da linha da pobreza, que na época era de US$ 17.600 por ano para uma família de três pessoas. Segundo um novo Índice de Segurança Econômica, um em cada cinco estadunidenses viu sua renda cair 25% ou mais em 20091. As declarações pessoais de falência tiveram seus índices mais elevados desde a aprovação da Lei de Prevenção do Abuso de Falência (Bankruptcy Abuse Prevention Act) de 2005, e as execuções hipotecárias subiram 35% entre meados de 2009 e meados de 2010. A essa altura, 30% dos proprietários deviam por suas casas quantias mais elevadas que o seu próprio valor, de modo que, essencialmente, também estavam falidos2. O número de pessoas sem teto atingiu níveis recordes, sendo que famílias com crianças formavam o segmento que crescia com maior velocidade, subindo 30% de 2007 a 2009. Enquanto isso, «cidades-acampamento» (tent cities) e outros tipos de acampamentos improvisados surgiram como ecos das «Hoovervilles» dos anos 20 e 30. Assim, 37 milhões de estadunidenses passaram a depender de restaurantes comunitários e sopas de caridade, nossas modernas filas do pão. Como sempre, as condições eram piores para os afro-americanos: para eles, esta recessão foi uma depressão3. O historiador britânico Simon Schama, em uma nefasta referência à Revolução Francesa, especulava nas páginas do Financial Times que o mundo poderia estar se tornando um «barril de pólvora», em um momento em que a crise econômica global poderia explodir em uma «fúria social» capaz de «fazer ruir o governo da república americana»4. Mas apesar de toda a exaltação de Schama, ainda que tenha havido uma conflagração violenta ocasional, um aumento de organizações de extrema-direita e a performance teatral do Tea Party, a população parecia permanecer curiosamente passiva, em comparação a outros períodos de miséria no passado. É um lugar-comum apontar que a história do movimento trabalhista nos EUA é a mais sangrenta de todas as organizações políticas ocidentais. Durante as duas primeiras décadas do século XX, o número de greves nos EUA foi até cinco vezes maior do que em outras nações industrializadas, e os seis anos posteriores ao incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist em 1911 estão entre os mais violentos daquela época longa e sombria5.

Os anos que vieram logo antes e depois do incêndio foram palco de uma série caleidoscópica de ativismos: agricultores se manifestando pela regulação das estradas de ferro; população urbana lutando por água potável e leite em condições de consumo, por parques, zonas de lazer e iluminação; mulheres – brancas e negras, do norte e do sul – unindo-se a movimentos por reformas políticas, sociais e culturais, movimentos a favor (e contra) o sufrágio universal até cruzadas contra o álcool, ligas de consumidoras, reformadoras que organizavam moradias de acolhida para imigrantes, sindicalistas e movimentos nativistas antiimigração. As empresas se organizaram para obter mais poder e influência com o governo e sobre os trabalhadores, enquanto o movimento trabalhista se manifestava por jornadas de trabalho mais curtas, salários mais elevados e condições de trabalho mais seguras. Aqueles anos frenéticos testemunharam grandes avanços. Somente no período entre 1917 e 1920, os estados promulgaram 400 novas leis visando o bem-estar público: pensões para as mães, compensações para trabalhadores, medidas de seguro-desemprego, habitação, saúde no local de trabalho e códigos de segurança, esforços de proteção à criança, projetos de obras públicas e leis regulamentando salários e jornada de trabalho. Nas vésperas da Grande Depressão, 10% dos estadunidenses recebiam ajudas públicas ou privadas6. Boa parte dessa inovação pode ser atribuída às ações de homens e mulheres pobres, da classe trabalhadora, insatisfeitos com suas condições e movidos por desespero e indignação.

Por que agora não acontece o mesmo? Se vivemos a pior crise econômica desde a Grande Depressão, por que não vimos uma agitação semelhante? Com 250.000 veteranos de guerra dormindo nas ruas, duas vezes mais famílias de militares do que civis dependendo de ajudas públicas para comer e taxas de suicídio crescentes entre os militares, onde está o moderno Bonus Army, marchando sobre Washington para exigir o que lhe é devido? Quando a taxa de desemprego oficial se aproximou de 20% para homens negros (e superou os 40% para aqueles com idades entre 16 e 19), por que nenhuma cidade foi incendiada? Os progressistas lutaram por justiça social; por que nós não lutamos7?

Podemos iniciar uma resposta lembrando que os progressistas não eram todos progressistas. Muitas linhas da complexa tapeçaria progressista representaram esforços de auto-preservação dos poderosos, lutas para desacelerar o ritmo das mudanças e reter o máximo possível da velha ordem social, política e econômica, naquele mundo que se industrializava e urbanizava. O historiador estadunidense Shelton Stromquist atribui ao movimento a legitimação da ideia de que a guerra de classes não era uma batalha a ser travada e vencida; ela devia ser esvaziada por meio de negociação, acomodação e uma limitada e benigna intervenção estatal. Muitas inovações progressistas não foram expansões de direitos, mas uma contração. As reformas eleitorais, por exemplo: novas regras para o registro de eleitores, a introdução do voto secreto, as eleições não partidárias e distritais – sempre promulgadas em nome do Bom Governo – acabaram por excluir os novos imigrantes da política municipal. A consolidação do poder corporativo em fins do século XIX foi tanto o marco do início do progressismo como um esforço para minimizar os efeitos perturbadores desta mesma consolidação. As tentativas de regular as empresas muitas vezes deslocaram a supervisão das legislaturas para o funcionalismo público, fazendo com que o poder se afastasse do controle democrático e se estabelecesse nas salas dos fundos, onde as empresas poderiam mais facilmente «cooptar» as agências que deveriam controlá-las.

Também é preciso lembrar que grande parte do projeto progressista (especialmente o «movimento da Temperança» contra o consumo de álcool) foi uma missão repressiva dos moralistas puritanos. Embora parte do fervor anti-álcool tencionava proteger as mulheres contra a violência e a penúria domésticas nas mãos de maridos bêbados e perdulários, também ajudou a construir novas normas contra a bebida no trabalho, tornando os trabalhadores mais eficientes e disciplinados. A distinção entre assistência social e controle social nem sempre é clara, mas a moralização da classe média moralista é um marco desta época, tanto quanto o voto feminino e o imposto de renda. Lembremos, finalmente, que muitos progressistas se opuseram a Franklin Roosevelt8.

Além disso, o que pode parecer uma reviravolta repentina aos olhos modernos desenrolou-se ao longo de décadas. A mudança seguiu um caminho acidentado e com retrocessos, que para os participantes muitas vezes parecia lento, insatisfatório e irritantemente cheio de concessões, exatamente como acontece hoje. Embora o incêndio na fábrica Triangle – resultado de uma fiscalização negligente e de políticas locais que beneficiavam os donos de fábricas em detrimento dos trabalhadores – tenha atraído novamente a atenção para a situação dos operários por algum tempo, os proprietários foram absolvidos das acusações criminais (mas não da responsabilidade civil). A Triangle continuou sendo uma empresa sem sindicalização obrigatória, e somente em 1935, com o Wagner Act, seria conquistado o direito de formar um sindicato. No entanto, o incêndio serviu aos propósitos políticos do Tammany Hall (o aparelho político do Partido Democrata). Na medida em que ajudou o partido a conquistar novos eleitores, ele pôde receber o mérito pelas 25 novas leis trabalhistas de Nova York promulgadas em 1913, que incluíam uma série de legislações de incêndio9.

Não foi uma conquista trivial, mas também não foi decisiva. Poderíamos, da mesma forma, rastrear as origens da reforma de Wall Street e da Lei de Proteção ao Consumidor (Consumer Protection Act, CPA) de 2010 no colapso financeiro de 2008, admitindo as suas fraquezas e reconhecendo a sua utilidade para os democratas, que buscam cultivar a bona fides populista. Inclusive, se a CPA é, como muitos afirmam, a regulamentação mais importante do setor financeiro desde os anos 30, poderíamos nos perguntar em que estamos faltando aos nossos antepassados da Era Progressista.

Talvez não devêssemos nos surpreender por não encontrar maiores revoltas entre a população carente, uma vez que muito tem sido feito – embora não o suficiente – para melhorar suas condições de vida. Norman Ornstein descreveu o 111o Congresso (2009-2011) como «a caminho de se tornar um dos mais produtivos desde a Grande Sociedade (Great Society)» e afirmou que «Obama já obteve mais êxito legislativo do que qualquer outro presidente moderno»10.

São afirmações discutíveis, porém plausíveis. A Lei de Proteção ao Paciente (Patient Protection) e a Lei de Saúde Acessível (Affordable Care Act, ACA) poderiam sustentar esse título por si sós. Quaisquer que sejam suas insuficiências, elas estenderam o Medicaid para mais 15 milhões de estadunidenses, subsidiaram a cobertura para outra quantidade similar de pessoas e erigiram, finalmente, o marco institucional para um programa nacional de saúde. Anterior à ACA, a Lei de Recuperação e Reinvestimento Estadunidense (American Recovery and Reinvestment Act – ARRA), que contou com cerca de US$ 800 bilhões, implementou a nacionalização de facto das dívidas de financiamentos privados estudantis; a diminuição de impostos e créditos dirigidos em grande parte às classes trabalhadoras e às classes médias; o fornecimento de subsídios para os benefícios da Lei Federal de Reconciliação do Orçamento Coletivo Consolidado (Consolidated Omnibus Budget Reconciliation Act – COBRA) para desempregados; US$ 2 bilhões para centros de saúde comunitários; a ampliação do Programa de Assistência de Nutrição Suplementar (Supplemental Nutrition Assistance Program – SNAP), que fornece cupons de alimentação; programas de restituição pelo Imposto de Renda (Earned Income Tax Credit – EITC); ajuda de US$ 350 milhões para programas alimentares de emergência, merenda escolar e programas de refeições a domicílio (Meals on Wheels) a indivíduos incapazes de comprar ou preparar sua alimentação; US$ 1,5 bilhão em subsídios de aluguel para pessoas em risco de ir para a rua e US$ 2 bilhões para vales de moradia «Section 8»; maiores fundos para assistência à criança; financiamento à conta de emergência da Assistência Temporária para Famílias Carentes (Temporary Assistance for Needy Families – TANF), que mantinha cerca de 240.000 postos de trabalho; além de mais amplos (e maiores) benefícios aos desempregados. Também foram enviados cheques de US$ 250 a beneficiários da Segurança Social e do Rendimento Suplementar de Segurança (Supplemental Security Income– SSI) e a veteranos deficientes11.

Não chega a ser a sopa de letrinhas dos primeiros anos do New Deal (FERA, AAA, TVA, NRA, PWA, etc), mas, ainda assim, marca um momento excepcionalmente expansivo na história moderna da política social estadunidense. Mesmo não havendo agitação de massas – e talvez com o objetivo de preveni-la – o governo dos EUA reagiu de maneira «progressista». Isso dito, é possível contestar com razão que, dada a magnitude do problema, a resposta foi muito branda e foi pouco efetiva para mitigar o empobrecimento de tantas pessoas. Na opinião do Conselho de Assessores Econômicos de Obama da época, a ARRA deveria ter contado com cerca de US$ 1,2 trilhão12.

E precisamente como as conquistas progressistas, é difícil separar as providências que beneficiaram famílias, trabalhadores e proprietários de casas das que prestaram serviço aos bancos, brokers e outros lobbies da K-Street de Washington: mesmo tendo diversas virtudes públicas, a ACA criará milhões de novos clientes de serviços privados e seguradoras, enquanto a TANF e o EITC são subsídios indiretos aos que empregam trabalhadores com baixos salários. Muitos historiadores identificam o progressismo com um movimento de peritos de classe média, com instintos cautelosos, que culminou em uma espécie de centrismo radical13. Consequentemente, mais tarde poderíamos identificar com a mesma ambivalência o momento atual: reconhecer seus sucessos, mas, ao mesmo tempo, lamentar a dominação dos tecnocratas credenciados pela Ivy League14 que, como seus antecessores, se dispõem a alterar o status quo apenas o suficiente para preservar suas características principais.

No entanto, por mais inadequadas que sejam, as ações do governo têm efetivamente tornado a vida de milhões de pessoas mais suportável. Se a bancada neo-Hooverista tivesse prevalecido, se tivessem deixado que outros grandes bancos falissem como o Lehman Brothers, se tivessem permitido que a indústria automobilística entrasse em colapso em meio aos escombros de uma já devastada Detroit, e se tivessem aprovado um congelamento generalizado de gastos em vez da ARRA, talvez teríamos visto as multidões tomando as ruas e «Obamavilles» teriam sido erguidas no Washington Mall. Em geral, não consideramos que os programas do New Deal tenham fracassado por não terem suplantado a Grande Depressão. Assim como a intervenção federal aliviou o sofrimento e acalmou o protesto naquele momento, as ações recentes podem, da mesma forma, ter freado o impulso de resistência e rebelião.

Nesse sentido, o incêndio na Triangle pode em si mesmo ajudar a explicar a aparente tranquilidade, uma vez que foi um dos elementos que impulsionaram as reformas que tornaram a vida da maioria dos trabalhadores mais segura, mais saudável e mais estável depois de 1911. Os EUA têm agora um Estado regulador, um Estado de Bem-Estar e um setor privado de serviços sociais elaborado de forma a limitar alguns dos perigos dos fins lucrativos desse tipo de empresa, ainda que com falhas, e suavizar os piores efeitos das perturbações econômicas. Havia, por exemplo, 35 milhões de pessoas recebendo cupons de alimentos em junho de 2009, um ano em que 38.000 refeitórios populares e bancos de alimentos forneceram comida a famílias em dificuldades15. Estes programas podem ser humilhantes e não atingem toda a população carente, mas garantem à maioria das famílias o acesso a alimentos suficientes para passar o mês. Se a fome é comum nos EUA, a inanição é rara, bem como são raros os atos desesperados que um homem faminto pode vir a fazer. Apesar de ser pequena e ter sofrido desgastes, a rede de segurança construída a partir do incêndio da Triangle é importante. A população tem outras opções, além dos motins.

Estas condições não são novidades pós-crash, é claro. Elas se originam em décadas de desigualdade e insegurança crescentes, salários estagnados e uma queda consideravelmente grave no bem-estar dos trabalhadores estadunidenses – quase 25% dos pobres em 2007 tinham, contudo, empregos de tempo integral16.

O ataque às classes trabalhadoras e médias tem sido potente e constante, começando com força durante a crise fiscal da década de 70 para disciplinar o movimento trabalhista depois das conquistas do pós-guerra, e intensificado sob Reagan e seus sucessores. Em 2009, apenas 12% dos trabalhadores do país eram sindicalizados, em comparação com 23% em 1980 e 33% em 1954, o índice mais alto da história17.

Isso significa mais do que uma limitação na capacidade dos trabalhadores de exercer pressão contra os seus patrões: a força de partidos trabalhistas é o melhor indicador do tamanho do Estado de Bem-Estar nas democracias avançadas, e o fato de que nem sequer exista um partido trabalhista nos EUA é parcialmente a razão pela qual nossa rede de seguridade pública seja pobre e escassa. Não há peso suficiente para desafiar os interesses entrincheirados das empresas, que continuam a ocupar uma «posição privilegiada» na formulação de políticas18.

Além disso, os partidos políticos de agendas raciais contribuem hoje para dividir e confrontar as classes trabalhadoras e médias. Delineia-se uma separação por raça e etnia semelhante à que havia no final do século XIX, e desvia-se da possibilidade de formar alianças de classe mais representativas e ameaçadoras.

Não é apenas o poder sindical que foi corroído. O mesmo aconteceu com a participação em organizações civis, especialmente na última década, distanciando ainda mais a população das redes que poderiam facilitar a ação coletiva19. O discurso político combativo e raso, da televisão a cabo solapa a confiança dos telespectadores no governo, alienando-os ainda mais da política e exacerbando décadas de declínio na participação civil20.

Quando os direitos de voto foram formalmente estendidos ao último grande bloco de excluídos, em 1965, perdeu-se um dos focos importantes do esforço de mobilização. A legalização da greve reduziu conflitos, e as contestações no período pós-guerra foram canalizadas aos rituais familiares, mais seguros, com cada participante desempenhando o seu papel na linha de piquete, na imprensa, nos tribunais, e na mesa de negociação. A deslocalização da produção, com corporações apátridas, dificultou a identificação de um alvo, tornando ainda mais difícil fazer greves, parar as máquinas, ou ameaçar a rentabilidade21.

Mais importante que isso, os estadunidenses pobres podem ser isolados e contidos com maior efetividade hoje do que nas cidades industriais do norte um século atrás. O Estado de Bem-Estar, ao qual se atribui a mitigação da miséria de boa parte da população, tem uma outra cara: um estado que abranda a resistência não com assistência, mas com vigilância, terror e confinamento22.

A militarização das forças policiais nos EUA iniciadas por Richard Nixon e as posteriores políticas de «qualidade de vida» e «tolerância zero» fizeram com que muitos bairros pobres se tornassem territórios ocupados. Com práticas que visam mesmo às infrações mais insignificantes em certas áreas, contando com estatutos contra a vadiagem e a ociosidade, virtualmente qualquer pessoa pode ser detida e interrogada a qualquer momento. Práticas de blitz e revista corporal, por exemplo, privam os homens pobres de qualquer direito à privacidade. Resistir, ou simplesmente desrespeitar, pode levar à prisão, tortura e morte, graças ao uso generalizado de armas elétricas paralisantes e pistolas de dardos elétricos (taser): a partir de 2001, 351 pessoas, a maioria desarmada, morreram depois de serem «eletrificadas» por agentes da lei23. Em 2009 mais de 575.000 nova-iorquinos foram detidos pela polícia: 91% eram negros e cerca de 90% não eram culpados de nada24. Os afro-americanos, desproporcionalmente pobres com relação a outros grupos, mais segregados hoje do que em 1900, antes do incêndio na Triangle, mais segregados que em 1954, antes da decisão Brown v. Board of Education, vivem sob uma espécie de lei marcial que dissuade os que poderiam se rebelar. Michelle Alexander descreveu a estrutura que apenas delineamos como «um novo Jim Crow»25.Aos que não se submetem, prisão. Os dados já são bem conhecidos: com a maior taxa de encarceramento do mundo, no final de 2008 os EUA mantinham 2,4 milhões de pessoas em suas penitenciárias e cadeias. Em grande proporção, os encarcerados são do sexo masculino, afro-americanos ou hispânicos, pobres, com baixo grau de instrução e possivelmente desempregados no momento da sua detenção. Metade dos presos são condenados por delitos não violentos relacionados a drogas, propriedade ou ofensas à ordem pública. Ao sair da prisão, permanecem sob vigilância: no final de 2008, por exemplo, 4,3 milhões estavam em sursis (probation) e 828.000, em liberdade condicional (parole), de um total de cerca de 7,5 milhões de pessoas sob o controle do nosso sistema de justiça criminal, um aumento de 300% desde 1980. Estatutos de suspensão do direito de voto para condenados criminais promulgados pela primeira vez no sul do país após a Guerra Civil, ainda afetam 5,3 milhões de estadunidenses e impedem 13% dos homens negros de votar, ao mesmo tempo em que seu histórico criminal faz com que sejam inelegíveis aos programas assistenciais do governo26. Embora quase não se fale nisso, os estados têm simultaneamente reduzido ou terminado programas de assistência geral – uma ajuda que, embora sempre irrisória, ofereciam uma alternativa para homens solteiros –, enquanto o programa dos cupons de alimentação recebeu limites de tempo e foi condicionado a testes de trabalho. Criam-se homens desesperados por um emprego que terão escassas chances de encontrar, mesmo que não tenham registros criminais. No entanto, permanentemente sob o olhar vigilante do Estado, aqueles que poderiam liderar protestos contra a ordem podem vir a ser prontamente trancafiados27.

A Lei de Reconciliação de Responsabilidade Pessoal e Oportunidade de Trabalho (Personal Responsibility and Work Opportunity Reconciliation Act) de 1996 – uma reforma para o bem-estar – impõe às mulheres pobres o seu próprio aparelho disciplinador. As políticas de bem-estar estadunidense sempre objetivaram monitorá-las e gerenciá-las, mas agora estes controles foram ampliados. As beneficiárias são submetidas a testes de drogas em muitos estados, e a assistência é restringida ou cortada se elas se recusam a provar a paternidade de seus filhos. Os benefícios podem ser reduzidos se os filhos não atingem metas de frequência escolar e, em algumas jurisdições, as candidatas são submetidas a controles de impressões digitais e de antecedentes criminais.Graças a políticas «work-first» («trabalho acima de tudo»), que capacitam para incorporação ao mercado de trabalho, duras sanções aos que transgridem regras e programas de «preparação ao emprego» («work readiness»), os beneficiários se veem em uma situação econômica desesperante e são treinados para ser dóceis e complacentes, preparando-se para um mercado de trabalho de baixos salários que recompensa estas virtudes. Os mecanismos de vigilância e de humilhação já serão familiares a esses trabalhadores no momento em que se submetam a testes de drogas, tenham de pedir permissão para usar o banheiro, ou sejam proibidos de confraternizar com seus colegas de trabalho28. Em algumas cidades, trabalhadores beneficiários destes programas substituíram os empregados públicos sindicalizados, mais caros e, presumivelmente, mais combativos29.

Os efeitos do novo regime de bem-estar vão ainda mais longe, pois suas medidas reduzem a capacidade de organização em bairros de baixa renda, forçando as organizações sem fins lucrativos a redirecionar suas energias para a formação, emprego e apoio à criança aos moradores que não puderam entrar nos programas do governo, ao mesmo tempo em que estabelecem uma competição por financiamento entre as agências. Como resumem Sandra Morgen e Jeff Mashovsky: «As políticas sociais neoliberais têm efeitos particularmente insidiosos na medida em que as organizações se alteram de forma a atenuar a ação coletiva das pessoas de baixa renda, adotando estratégias de auto-ajuda individuais, empresariais ou apolíticas para sobreviver»30. Neste contexto, o recente golpe à Associação de Organizações Comunitárias pela Reforma Agora (Association of Community Organizations for Reform Now – ACORN) tem todo sentido, dado o seu alcance em bairros pobres, os esforços bem-sucedidos no cadastramento de eleitores de baixa renda, o combate contra despejos e empréstimos predatórios, além de outras modalidades de organização comunitária, capacitação e educação.

Mesmo em sua fase expansionista, a maneira como a Ajuda a Famílias com Crianças Dependentes (Aid to Families with Dependent Children – AFDC) tratava os candidatos reduzia a confiança no governo, na atividade do movimento e freava a disposição de se manifestar contra o que se considerava injusto. Um crescente número de pesquisas mostra que o modo de funcionamento da burocracia afeta a disposição dos cidadãos a participar da cidadania: alguns programas, como o G.I. Bill, fomentaram a virtude cívica, participação política e confiança no governo, enquanto outros, como a assistência social e o sistema penitenciário, desmobilizam e enfraquecem31.

Os estadunidenses pobres, e especialmente os pobres negros (que já são menos inclinados a votar e apresentam pouca confiança na autoridade do Estado), distanciam-se ainda mais de um governo que, no contexto atual, é «completamente indiferente» às suas necessidades. O governo pode ignorá-los com segurança porque eles não contribuem nem com votos nem no financiamento das campanhas, e todas as ameaças à ordem pública até agora parecem ter sido mantidas sob controle32. As instituições com que estes indivíduos têm maior probabilidade de interagir lhes ensinaram que não há esperança, e seu cinismo é reafirmado a cada encontro com a burocracia ou com a polícia. O dilema é agravado por uma mídia de massa que os demoniza como bandidos ou rainhas do bem-estar social, deslegitimando suas reivindicações com a mesma eficácia com que o sistema político ignora as suas vozes.

Apesar de tudo isso, há – porque sempre há – pessoas reagindo33. No início da recessão, um xerife de Cook County, em Illinois, se recusou a executar algumas ordens de despejo, tornando-se uma espécie de herói nacional por um tempo. Grupos sob a organização do movimento Take Back the Land (Recuperar a Terra) ocuparam casas hipotecadas e terras públicas em todo o país, oferecendo modelos modernos de «marchas da indignação» e de resistência aos despejos, como na Grande Depressão. O Fórum Social Mundial tem ajudado ativistas por todo o planeta a construir novas alianças34. Tanto os prêmios de Wall Street, como a lei de imigração do Arizona e o vazamento de óleo da BP originaram protestos públicos, alguns deles bastante grandes.

Esse esforço pode parecer inútil, mas, quando analisamos momentos turbulentos do passado, o que aparece como explosão repentina é simplesmente a erupção final de antigas reivindicações cozidas a fogo brando, que se torna possível depois de décadas de organização e fortalecimento institucional35. Em uma economia particularmente comprimida, em que o emprego – qualquer emprego – é uma mercadoria cada vez mais valorizada e onde o Estado tem demonstrado que pode – e vai – remover a ajuda que você recebe ou a sua liberdade, adota-se, por necessidade, uma postura de conformidade e deferência. Esta postura costuma esconder formas mais sutis de resistência36.

Mas o fato de que as cidades estadunidenses não estejam em chamas agora não significa que elas não estarão: alguns estados já estão liberando prisioneiros porque não podem mais pagar sua moradia e alimentação. Se a fome, a pobreza e o desemprego continuarem a crescer, muita gente poderá concluir que já não tem nada a temer, nem nada a perder.

  • 1. Os dados do Escritório de Estatísticas do Trabalho (Bureau of Labor Statistics) estão disponíveis em www.bls.gov/cps. Os dados de pobreza do Departamento de Censo dos eua estão disponíveis em www.census.gov/hhes/www/poverty/poverty.html, e o Índice de Segurança Econômica pode ser consultado em www.economicsecurityindex.org. V. tb. Sara Murray: «Chronic Joblessness Bites Deep» em Wall Street Journal, 2/6/2010.
  • 2. V. www.federalreserve.gov/releases/housedebt; «Consumer Bankruptcy Filings Up 14 Percent Through First Half of 2010», 2/7/2010, disponível em; Alex Veiga: «Foreclosure Rates Surge», Associated Press, 15/4/2010; e www.calculatedriskblog.com/2010/07/negative-equity-breakdown.html.
  • 3. V. Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos eua: «The 2009 Annual Homeless Assessment Report to Congress», junho de 2010; Jesse McKinley: «Cities Deal with Surge in Shantytowns» em The New York Times, 25/3/2009; James Mabli, Rhoda Cohen, Frank Potter e Zhanyun Zhao: «Hunger in America 2010: National Report Prepared for Feeding America», em Mathematica Policy Research, Princeton, janeiro de 2010; e Orlando Patterson: «For African-Americans, a Virtual Depression–Why?» em The Nation, 19/7/2010.
  • 4. S. Schama: «The World Teeters on the Brink of a New Age of Rage» em Financial Times, 22/5/2010, disponível emwww.ft.com/cms/s/0/45796f88-653a-11df-b648-00144feab49a.html.
  • 5. Philip Taft e Philip Ross: «American Labor Violence: Its Causes, Character, and Outcome» em Hugh Davis Graham e Ted Robert Gurr (eds.): The History of Violence in America: A Report Submitted to the National Commission on the Causes and Prevention of Violence, Frederick A. Praeger, Nova York, 1969; v. tb. Robert Justin Goldstein: «Political Repression of the American Labor Movement During Its Formative Years-A Comparative Perspective» em Labor History vol. 51 No 2, 5/2010.
  • 6. Michael Katz: In the Shadow of the Poorhouse: A Social History of Welfare in America, Basic Books, Nova York, 1996; James T. Patterson: America’s Struggle Against Poverty, 1900-1994, Harvard University Press, Cambridge, ma, 1994.
  • 7. V. www.nationalhomeless.org/factsheets/veterans.pdf; Bryan Mitchell: «More Troops Relying on Food Stamps» in Military.com, 22/7/2009, www.military.com/news/article/moretroops-are-relying-on-food-stamps.html; Jamie Tarabay: «Suicide Rivals the Battlefield in Toll on us Military» em npr.org, www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=127860466, 17/6/2010; Sylvia Allegretto, AryAmerikanere Steven Pitts: Black Employment and Unemployment in June 2010, uc-Berkeley Labor Center, Berkeley, 2/7/2010.
  • 8. Martin J. Sklar: The Corporate Reconstruction of American Capitalism, Cambridge University Press, Nova York, 1988; Gabriel Kolko: The Triumph of Conservatism, Free Press, Nova York, 1977; S. Stromquist: Re-Inventing «The People»: The Progressive Movement, the Class Problem, and the Origins of Modern Liberalism, University of Illinois Press, Urbana-Chicago, 2006; Robert H. Wiebe: The Search for Order: 1877-1920, Hill and Wang, Nova York, 1967; Glenda Elizabeth Gilmore (ed.): Who Were the Progressives?, Bedford / St. Martin’s, Boston, 2002; Michael McGerr: A Fierce Discontent: The Rise and Fall of the Progressive Movement in America, 1870-1920, Free Press, Nova York, 2003.
  • 9. David von Drehle: Triangle: The Fire That Changed America, Grove Press, Nova York, 2003.
  • 10. N. Ornstein: «A Very Productive Congress, Despite What the Approval Ratings Say» em Washington Post, 31/1/2010.
  • 11. V. Center on Budget and Policy Priorities: «Economic Recovery Watch», www.cbpp.org/research/index.cfm?fa=topic&id=142; e www.recovery.gov.
  • 12. Ryan Lizza: «Inside the Crisis: Larry Summers and the White House Economic Team» em The New Yorker, 12/10/2009.
  • 13. Ver M. McGerr: op. cit.
  • 14. Referência ao grupo de universidades de elite e excelência acadêmica dos eua, que inclui Harvard, Columbia, Princeton e Yale, entre outras. [N. do E.]
  • 15. V. dados do Population Reference Bureau, www.prb.org/Articles/2009/usfoodstampenrollment.aspx; J. Mabli, R. Cohen, F. Potter e Z. Zhao: op. cit. (em maio de 2010, 40,8 milhões de pessoas estavam nas listas do snap, com projeções de alcançar 43 milhões em 2011); e um artigo de Bostonist.com/BloombergNews,www.boston.com/news/nation/washington/articles/2010/08/05/food_stamp_use_hit_record_408m_in_may/, 5/8/2010.
  • 16. Maria Cancian e Sheldon Danziger: Changing Poverty, Changing Policies, Russell Sage Foundation, Nova York, 2009, pp. 39-40.
  • 17. Bureau of Labor Statistics: Union Membership 2009, Washington, dc, 22/1/2010; Douglas S. Massey: «Globalization and Inequality: Explaining American Exceptionalism» em European Sociological Review vol. 25 No 1, 2009, pp. 9-23.
  • 18. John Myles e Jill Quadagno: «Political Theories of the Welfare State» em Social Service Review vol. 76 Nº 1, 3/2002; Charles Lindblom: Politics and Markets, Basic Books, Nova York, 1980; Jacob S. Hacker e Paul Pierson: «Winner-Take-All Politics: Public Policy, Political Organization, and the Precipitous Rise of Top Incomes in the United States» in Politics & Society vol. 38 No 2, 2010.
  • 19. Theda Skocpol: «Voice and Inequality: The Transformation of American Civic Democracy» in Perspectives on Politics vol. 2 No 1, 3/2004. Sobre debates que sugerem que os blogs políticos e outras comunidades online «podem» oferecer novas oportunidades para a organização, v. Matthew R. Kerbel e Joel David Bloom: «Blog for America and Civic Involvement» em International Journal of Press/Politics vol. 10 No 4, 2005; Eric Lawrence, John Sides e Henry Farrell: «Self-Segregation or Deliberation?: Blog Readership, Participation, and Polarization in American Politics» em Perspectives on Politics No 8, 2010, pp. 141-157.
  • 20. Diana C. Mutz e Byron Reeves: «The New Videomalaise: Effects of Televised Incivility on Political Trust» em American Political Science Review vol. 99 No 1, 2/2005.
  • 21. Ou talvez, não; v. Frances Fox Piven: «Can Power from Below Change the World?» em American Sociological Review vol. 73 No 1, 2/2008.
  • 22. Trata-se de um esquema que Piven e Cloward analisaram extensamente: às vezes os pobres recebem pão; outras vezes, recebem balas. V. F. Fox Piven e Richard A. Cloward: «Humanitarianism in History: A Response to the Critics» em Walter I. Trattner (ed.), Social Welfare or Social Control?: Some Historical Reflections on Regulating the Poor, University of Tennessee Press, Knoxville, 1983.
  • 23. V. www.amnestyusa.org/us-humanrights/taser-abuse/page.do?id=1021202.
  • 24. V. www.nyclu.org/issues/racial-justice/stop-and-frisk-practices.
  • 25. Referência ao conjunto de leis estaduais e locais segregacionistas sancionadas entre 1876 e 1965 sob a filosofia «juntos, mas separados». Douglas Massey e Nancy Denton: American Apartheid: Segregation and the Making of the Underclass, Harvard University Press, Cambridge, MA, 1998; Richard D. Kahlenberg: «The Return of Separate But Equal» em James Lardner e David A. Smith (eds.): Inequality Matters: The Growing Economic Divide in America and Its Poisonous Consequences, New Press, Nova York, 2005; M. Alexander: The New Jim Crow: Mass Incarceration in the Age of Colorblindness, New Press, Nova York, 2010.
  • 26. As estatísticas do Escritório Federal de Justiça (Federal Bureau of Justice) podem ser consultadas em bjs.ojp.usdoj.gov/index.cfm; Sentencing Project: «Facts About Prisons and Prisoners» (várias edições), disponível em www.sentencingproject.org
  • 27. Devah Pager: Marked: Race, Crime, and Finding Work in an Era of Mass Incarceration, University of Chicago Press, Chicago, 2007.
  • 28. Jane L. Collins e Victoria Mayer: Both Hands Tied: Welfare Reform and the Race to the Bottom of the Low-Wage Labor Market, University of Chicago Press, Chicago, 2010; Barbara Ehrenreich: Nickel and Dimed: On (Not) Getting By in America, Metropolitan Books, Nova York, 2001.
  • 29. Laura Wernick, John Krinsky e Paul Getsos: New York City’s Public Sector Sweatshop Economy, Community Voices Heard, Nova York, 2000.
  • 30. James Jennings: «Welfare Reform and Neighborhoods: Race and Civic Participation» em Randy Albelda e Ann Withorn (eds.): Lost Ground: Welfare Reform, Poverty, and Beyond, South End Press, Boston, 2002; S. Morgen e J. Maskovsky: «The Anthropology of Welfare ‘Reform’: New Perspectives on us Urban Poverty in the Post-Welfare Era» em Annual Review of Anthropology No 32, 2003.
  • 31. Suzanne Mettler: Soldiers to Citizens: The g.i. Bill and the Making of the Greatest Generation, Oxford University Press, Nova York, 2005; Joe Soss: «Lessons of Welfare: Policy Design, Political Learning, and Policy Action» em American Political Science Review vol. 93 No 2, 6/1999; Joe Soss e Lawrence R. Jacobs: «The Place of Inequality: The Place of Nonparticipation in the American Polity» em Political Science Quarterly vol. 124 No 1, 2009; Suzanne Mettler e Jeffrey M. Stonecash: «Government Program Usage and Political Voice» em Social Science Quarterly vol. 89 No 2, 6/2008; Vesla Weaver: «The Impact of the Carceral State on Citizenship and Sense of the State», palestra apresentada na reunião anual da American Political Science Association, 2009.
  • 32. Larry Bartels: Unequal Democracy: The Political Economy of the New Gilded Age, Russell Sage Foundation and Princeton University Press, Nova York-Princeton, 2008.
  • 33. Este artigo foi escrito antes do movimento Occupy Wall Street. [N. do E.]
  • 34. Azam Ahmed e Ofelia Casillas: «Sheriff: I Will Stop Enforcing Evictions» em Chicago Tribune, 9/10/2008; www.takebacktheland.org; José Correa Leite: World Social Forum: Strategies of Resistance, Haymarket Books, Chicago, 2005.
  • 35. Doug McAdam: Political Process and the Development of Black Insurgency, 1930-1970, University of Chicago Press, Chicago, 1982.
  • 36. James C. Scott: Weapons of the Weak: Everyday Forms of Peasant Resistance, Yale University Press, New Haven, 1985.
Este artículo es copia fiel del publicado en la revista Nueva Sociedad , Junho 2012, ISSN: 0251-3552


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