Tribuna regional e global
NUSO Nº Novembro 2015

Podemos e o «populismo de esquerda» Rumo a uma contra-hegemonia a partir do sul da Europa?

Podemos e o «populismo de esquerda»  Rumo a uma contra-hegemonia a partir do sul da Europa?

Nota: Tradução de Luiz Barucke. A versão original deste artigo em espanhol foi publicada em Nueva Sociedad No 258, 7-8/2015, disponível em www.nuso.org.

Em 17 de janeiro de 2014, em um pequeno teatro localizado no centro de Madri, foi apresentada uma iniciativa cidadã orientada a lançar uma nova candidatura às eleições para o Parlamento Europeu. Sua liderança visível era Pablo Iglesias, um professor de Ciências Políticas de 36 anos bastante conhecido entre os movimentos sociais madrilenhos, que nos meses anteriores havia obtido certa notoriedade por suas aparições em programas de televisão de grande audiência. Iglesias não apresentou um partido nem uma coalizão tradicional, mas sim o que definiu como «um método participativo aberto a todos os cidadãos». Cinco meses mais tarde, e depois de uma extraordinária ascensão, o Podemos se transformava na grande surpresa das eleições europeias ao obter 8% dos votos e eleger cinco deputados. Ainda assim, Iglesias disse que não considerava satisfatórios os resultados: «Avançamos muito e surpreendemos a casta, mas a tarefa que se apresenta para nós a partir de amanhã é enorme (…). O Podemos não nasceu para desempenhar um papel de observador; nascemos para ganhar e vamos ganhar»1. Não era uma bravata. Poucos meses depois, o Podemos se tornaria o primeiro partido em intenção de voto nas pesquisas.

Em seu ano e meio de existência, essa formação revolucionou a vida política espanhola. Seu principal mérito foi vencer o impasse a que pareciam ter chegado as mobilizações populares produzidas no calor do 15-m e, de forma mais geral, superar as limitações tradicionais da esquerda, oferecendo uma expressão eleitoral de sucesso à onda de mudança. O movimento dos indignados havia conseguido articular o mal-estar difuso provocado pela crise político-econômica com um discurso democratizante que questionava os consensos sobre os quais se estruturou a hegemonia das elites econômicas e sociais espanholas durante as últimas décadas. Mas ele não foi capaz de desenvolver formas de organização duradouras nem pôde deter os cortes impostos pelo «austericídio». E os partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais também não pareciam capazes de transformar essa indignação em uma ferramenta de mudança institucional. O perigo intuído no final de 2013 era que esse impasse desse lugar a um encerramento da crise «pelo alto» que preservasse o status quo. A irrupção do Podemos alterou completamente esse cenário, escancarando a janela de oportunidade entreaberta e obrigando todos os atores a se posicionarem diante de seu surgimento. Mas o Podemos transformou a paisagem política não só da Espanha; também trouxe à luz oportunidades, dilemas e perigos que afetam toda a esquerda europeia. No melhor dos cenários, ele poderia anunciar, juntamente com o Syriza, a construção de um polo de antagonismo à União Europeia neoliberal a partir dos países do sul do continente.

A crise do «regime de 78» e o fim do milagre espanhol

Somente é possível entender o labirinto político espanhol à luz da profunda crise econômica vivida pelo país de 2008. O estopim da crise das hipotecas subprime exerceu um violento impacto na economia espanhola, que havia vivenciado uma enorme bolha imobiliária ao longo de toda a década anterior. A ilusão de que se tratava de um choque temporário, depois do qual retornaria a belle époque neoliberal, logo se desfez. Nos últimos quatro anos, a taxa média de desemprego tem sido de quase 25%, mais da metade dos desempregados estão desocupados por um longo período, e cerca de um milhão vive em lares onde todos os membros estão sem emprego. A desigualdade cresceu a um nível superior ao de qualquer país da Europa, a taxa de pobreza está em torno de 20%, e têm ocorrido quase cem mil despejos anuais2. Se o boom imobiliário arruinou a paisagem natural, a crise arrasou a paisagem social.


Mas a crise econômica se transformou em uma crise política. Nos últimos cinco anos, os cidadãos começaram a questionar não apenas um ou outro dos grandes partidos (Partido Popular [pp] e Partido Socialista Operário Espanhol [psoe]), mas todo o conjunto de atores e instituições que compõem o regime político, cujos déficits democráticos foram destacados pela crise e por contínuos escândalos de corrupção (o gráfico menciona alguns indicadores). Da mesma forma, disseminou-se um difuso sentimento antipolítico, ideologicamente transversal, cujo melhor exemplo talvez seja a ampla difusão que teve nas redes sociais um boato completamente falso: que na Espanha havia 445.568 políticos.

O que se encontra em crise é o chamado «regime de 78» (devido ao ano de aprovação da Constituição espanhola): um conjunto de consensos políticos, econômicos e culturais que nasceram com a transição democrática na Espanha e permitiram às elites econômicas e políticas administrar durante três décadas com relativo sucesso os conflitos trabalhistas, territoriais e culturais. Entre 1975, com a morte do ditador Francisco Franco, e 1982, quando o psoe teve sua primeira vitória eleitoral, consolidou-se uma estrutura de poder que traçou a fronteira do que era considerado politicamente viável, limitou o processo de democratização das instituições políticas espanholas e impediu um desenvolvimento mais igualitário. Essa estrutura de poder se reproduziu durante as décadas posteriores sob os governos do psoe e do pp.

Os governos do psoe (1982-1996) consolidaram o modelo da transição. Foi uma longa hegemonia política que terminou de moldar o país e que pode ser considerada um exemplo pioneiro da alternativa social-democrata ao neoliberalismo. Quase desde seu primeiro dia, o governo de Felipe González guardou em uma gaveta seu programa keynesiano e colocou a política econômica nas mãos de dois ministros ligados às elites bancárias – Miguel Boyer e Carlos Solchaga. O resultado foi a aplicação de receitas ortodoxas de ajuste e redução da inflação de forma muito mais decidida do que em outras experiências do sul da Europa3. Com uma taxa de desemprego acima de 20%, a Espanha se tornou um laboratório neoliberal e, embora tenham sido introduzidos avanços no desenvolvimento de um incipiente Estado de bem-estar, eles foram notavelmente tímidos4.

O aspecto mais negativo da política econômica socialista foi sem dúvida a desregulamentação do mercado de trabalho, que fez disparar para 30% os índices de trabalho temporário, fragilizou os sindicatos e consolidou o modelo herdado de «baixa produtividade, baixos salários»5. Ao mesmo tempo, a liberalização dos aluguéis residenciais estabeleceu as bases da futura bolha especulativa6. As declarações que deram fama ao ministro Solchaga – «a Espanha é o país do mundo onde é mais fácil enriquecer rapidamente» ou «a melhor política industrial é a que não existe» – resumem o espírito de celebração da riqueza e de desconfiança com relação ao Estado do que posteriormente seria conhecido como a «terceira via», a qual os dirigentes socialistas reivindicaram com orgulho7.

Quando o pp assumiu o governo em 1996, favorecido pelos escândalos de corrupção em torno do psoe e por seu enfrentamento com os sindicatos, encontrou-se diante de uma conjuntura internacional favorável que lhe permitiu manter um modelo produtivo baseado no turismo e na construção sem realizar mudanças na política econômica. O resultado foi uma imensa bolha imobiliária que alimentou a ideia de um milagre econômico espanhol. No entanto, por mais que o lema daqueles anos fosse «A Espanha vai bem», a verdade é que, entre 1995 e 2007, os salários reais se estagnaram e caiu a participação dos trabalhadores na renda nacional. O segredo para o efeito riqueza que a população experimentou está no que se denominou «keynesianismo de preço de ativos»8. A supervalorização dos bens imóveis em um país onde 85% da população são proprietários de sua residência e a possibilidade de endividar-se graças ao crédito barato criaram a ilusão coletiva de um capitalismo popular no qual a escassez havia dado lugar à abundância. A chegada ao poder de José Luis Rodríguez Zapatero em 2004, provocada sobretudo pelo arrogante belicismo do pp no Iraque e sua gestão manipuladora dos atentados islamitas do 11-m, supôs o ponto culminante dessa belle époque. As conquistas de Zapatero em matéria de direitos civis – como o casamento entre pessoas do mesmo sexo – devem ser reconhecidos; mas no tocante às políticas econômica, social e trabalhista, as mudanças foram superficiais. O estouro da bolha em 2008 deu um fim abrupto às ilusões. Mas foi preciso esperar três anos, até 15 de maio de 2011, para que uma faísca incendiasse o fértil terreno de mal-estar social e começassem a ruir os consensos do «regime de 78».

Dos indignados ao Podemos

O surgimento do Podemos está inseparavelmente unido ao 15-m, o movimento dos indignados de maio de 20119. Não há nenhuma relação orgânica entre ambos os fenômenos, mas o 15-m abriu oportunidades políticas que o partido liderado por Pablo Iglesias soube interpretar e aproveitar, além da participação de muitos de seus membros em tais mobilizações.

No domingo 15 de maio de 2011, uma semana antes das eleições municipais e regionais, foram convocadas diversas manifestações em mais de 50 cidades de toda a Espanha sob o lema «Não somos mercadoria nas mãos de políticos e banqueiros». A iniciativa era procedente da Democracia Real Já, uma pequena associação com apenas alguns meses de vida muito crítica em relação à política institucional, mas também distanciada do ativismo das esquerdas. A manifestação de Madri foi a mais importante e reuniu dezenas de milhares de pessoas. Quando foi encerrada, cerca de 40 pessoas decidiram acampar e passar a noite na Puerta del Sol, uma importante praça do centro histórico de Madri.

A ocupação teve um espetacular efeito bola de neve. Pouco depois, milhares de pessoas se instalavam no mesmo local e réplicas do acampamento eram produzidas em dezenas de cidades de toda a Espanha. Nelas se constituíram assembleias cidadãs e foram criadas diversas comissões e grupos de trabalho. O ideário comum era a profunda rejeição ao bipartidarismo, uma reivindicação da participação política direta, a condenação das medidas de austeridade e a crítica da especulação financeira. Em sua organização, o movimento estava marcado pela horizontalidade de assembleias e, de fato, apesar de sua intensa presença midiática, não gerou líderes nem cabeças visíveis. No que se refere à composição social, destacava-se o protagonismo de jovens universitários de classe média com expectativas frustradas, mas o movimento despertou uma intensa simpatia entre a maioria dos cidadãos.

Uma parte da esquerda tradicional observou o 15-m com ceticismo. O movimento destacava a democracia antes do antagonismo de classes, a participação e o consenso frente ao partidarismo e a centralidade de uma noção enriquecida de cidadania frente aos eixos políticos convencionais de esquerda e de direita. No entanto, o 15-m também permitiu que muitos antigos ativistas desencantados com a militância retornassem à política ativa. Por sua vez, a presença desses ativistas garantiu estabilidade ao 15-m e permitiu que os discursos elaborados pela esquerda alternativa ao longo das décadas anteriores fossem assumidos por uma grande quantidade de pessoas que, até então, haviam sido muito refratárias a eles. Com certeza, o êxito do Podemos está relacionado com o modo com que o 15-m produziu uma profunda mudança no senso comum político, uma alteração do que a maioria social considera necessário, desejável ou, ao menos, possível. Contudo, o sucesso expressivo do movimento, sua capacidade de questionar os consensos do «regime de 78», contrasta com seu fracasso de organização: ele não se cristalizou em meios capazes de produzir mudanças institucionais efetivas.

No entanto, o 15-m abriu espaço para importantes mobilizações populares (as marés em defesa da educação ou da saúde pública, a Plataforma de Afetados pela Hipoteca ou as Marchas da Dignidade) que, contudo, quase sempre deparavam com a barreira institucional de um sistema político pouco receptivo. Nesse contexto de impasse, a ascensão eleitoral do Syriza na Grécia – uma força com aspirações majoritárias que defendia explicitamente o não pagamento da dívida ilegítima – transformou-se em uma referência para o aproveitamento do ciclo eleitoral de 2014-2015 (eleições europeias de maio de 2014, municipais e regionais de maio de 2015 e gerais no outono de 2015) para transformar a mobilização em votos. A Esquerda Unida era uma organização mais bem posicionada para encabeçar um Syriza espanhol, mas sua ala conservadora fechou as portas para essa possibilidade: ela preferia garantir um crescimento eleitoral moderado com a possibilidade de futuros pactos com o psoe antes de embarcar na refundação defendida pelo setor mais identificado com o 15-m, este liderado por Alberto Garzón.

Tais eram as circunstâncias quando um jovem professor que frequentavam assiduamente os programas de debate na televisão decidiu dar um passo adiante.

Da televisão ao populismo de esquerda

O projeto do Podemos teve início no outono de 2013 entre a Esquerda Anticapitalista e um pequeno grupo de professores de ciência política da Universidade Complutense de Madri. A Esquerda Anticapitalista era um pequeno partido que havia abandonado a Esquerda Unida (iu, na sigla em espanhol) em 2008. O partido proporcionou o vigor organizacional que permitiu que o Podemos desse seus primeiros passos, mas logo ficou encurralado em benefício do grupo de professores. Muitos deles – como o próprio Pablo Iglesias – eram antigos militantes ou colaboradores da iu, agrupação que via o Podemos com um misto de indiferença e desprezo. Durante a última década, todos esses docentes haviam assessorado os governos latino-americanos da Venezuela, Bolívia e Equador. As lições extraídas dessa experiência representaram sua principal fonte de inspiração política. Tratava-se – como escreveu seu principal ideólogo, o jovem Iñigo Errejón, de 31 anos – de traduzir as rupturas populistas latino-americanas para o contexto espanhol e europeu10.

O Podemos nascia com um ativo fundamental. Ao longo de 2013, Pablo Iglesias havia se transformado em uma figura televisiva muito conhecida. Desde o início da crise, havia sido produzido nas redes de tevê espanholas um certo auge dos programas de debate político. Iglesias conseguiu abrir espaço nesses debates com muita eficácia, a ponto de sua participação fazer disparar os índices de audiência. Seu segredo era um discurso crítico não muito original, mas direto, empático e simples, perfeito para intervir em espaços rudimentares e muito distantes das argumentações acadêmicas.

Não há nada de improvisado nessa estratégia. Trata-se de um projeto de longa trajetória que o círculo de Iglesias elaborou durante anos na contracorrente do preconceito segundo o qual a televisão seria um meio inacessível ou superado pela internet e pelas redes sociais. O certo é que, ao menos na Espanha, o consenso político continua sendo construído majoritariamente nos meios tradicionais: 60% da população prefere a televisão como fonte de informação política11. Assim, em 2010, Iglesias criou um projeto televisivo contra-hegemônico de inspiração explicitamente gramsciana: La tuerka. Tratava-se de um programa de televisão a partir do qual tentou difundir as ideias da esquerda em uma linguagem adaptada ao senso comum da maioria social. Embora fosse transmitido por um pequeno canal comunitário, foi a escola onde Iglesias aprendeu alguns dos segredos de comunicação que o transformaram em uma figura midiática. Tanto a recepção do «populismo» latino-americano como a hiperliderança midiática tiveram um laço complexo no Podemos. A centralidade de Iglesias no projeto foi controversa e difícil de administrar. Nas eleições europeias, por exemplo, o Podemos optou por imprimir a cara de Iglesias na cédula eleitoral em que normalmente é exibido o logotipo dos partidos. A razão era simples: segundo estudos realizados pelo grupo, somente 5% dos eleitores reconheciam o nome da formação, ao passo que mais de 50% sabiam quem era Iglesias (que possui o mesmo nome de quem, em 1879, fundou o Partido Socialista). A decisão acabou demonstrando ser correta, mas foi ridicularizada por muitos, que a interpretaram como uma mostra de narcisismo.

Da mesma forma, ainda que o populismo seja um elemento central de sua estratégia, evitou-se essa marca por suas conotações pejorativas (não por acaso, essa foi a acusação com que mais os atacaram)12. O Podemos aplica a lógica discursiva populista, que consiste em dividir o espaço político em dois campos de enfrentamento: o povo versus uma elite que se apoderou das instituições. A contestação do establishment em geral abre a possibilidade de articular uma unidade popular ampla e inclusiva que supere as lealdades preexistentes. Mas isso pode ser realizado a partir de perspectivas muito diferentes, de acordo com o conteúdo com que se preencha essa forma discursiva. O do Podemos é, sem nenhuma dúvida, um «populismo de esquerda». Suas propostas, desde a auditoria e reestruturação da dívida externa até a reforma fiscal ou a intervenção progressista do Estado na economia, são parte do acervo dessa tradição política.

Entretanto, a estratégia populista do Podemos constituiu-se precisamente em não se apresentar como «de esquerda». Seu objetivo não era ocupar a margem esquerda do tabuleiro político, mas sim limpar o tabuleiro e jogar segundo novas regras: não falar de esquerda e direita, e sim de abaixo e acima, ou de nova e velha políticas. No contexto espanhol, a imagem pública da «esquerda» estava muito associada ao establishment do velho regime (o psoe, as cúpulas dos sindicatos União Geral dos Trabalhadores [ugt] e Comissões Operárias [ccoo], e até mesmo uma parte da iu) e, em qualquer caso, ela carecia de grande poder mobilizador. Seguindo de perto as teses de Ernesto Laclau, os promotores do Podemos procuraram articular um sujeito mais amplo possível a partir do mal-estar social amorfo e, para isso, recorreram aos chamados «significantes vazios», pouco conotados, que superassem lealdades preexistentes divisoras e permitissem mobilizar uma «maioria social» acima delas13.

Os novos sujeitos políticos: «o povo» e «a casta»

Apesar do enorme descontentamento e da falta de legitimidade provocados pela crise, não era simples forjar um «nós» em um contexto plurinacional como o espanhol, no qual conceitos como «pátria» ainda guardam certo viés conservador. Em tais circunstâncias, os significantes escolhidos pelo Podemos foram «o povo» [la gente] contra «a casta». Este segundo conceito, empregado previamente por Beppe Grillo na Itália, teve um êxito incontestável e se incorporou à linguagem cotidiana. Serviu para nomear o inimigo diante do que se define, negativamente, o projeto do Podemos. A «casta» é um amálgama que inclui políticos, grandes empresas, meios de comunicação, especuladores e outros grupos privilegiados. Trata-se de uma categoria difusa – um significante flutuante – à qual qualquer um, desde quem não possui uma certa consciência de classe até aqueles que abraçam a antipolítica, pode recorrer para expressar sua indignação com o establishment. Ao mesmo tempo, o Podemos fez um esforço sistemático para conter ou evitar as referências esquerdistas que, de um modo espontâneo, poderiam aparecer em seu discurso, não se expressando demasiadamente em conflitos muito marcados ideologicamente, como a questão monarquia-república, a regulação do aborto ou o problema catalão. O objetivo era evitar elementos que dividissem o bloco social que eles pretendiam formar a partir do descontentamento generalizado.

Mas ainda que o objetivo do Podemos seja conquistar a «centralidade» do tabuleiro político rompendo os limites do eixo esquerda-direita, o fato é que seu eleitorado é basicamente de esquerda. Ou seja, o Podemos não recebeu o apoio eleitoral heterogêneo obtido por um partido como o Movimento 5 Estrelas na Itália. Seu padrão de crescimento eleitoral reproduz o perfil do psoe dessas últimas três décadas: ao longo do eixo de autoidentificação ideológica (do 1 ao 10, sendo 1 muito de esquerda e 10, muito de direita), 25% se situam na faixa 1-2, 48% na 3-4, e 18% da faixa 5-614.

No entanto, embora seus apoios não sejam tão «transversais» como sugere seu discurso, o Podemos conseguiu situar-se no centro da esquerda e angariar votos de setores não ideologizados. Essa quadratura do círculo foi possível graças a um discurso muito medido que, por um lado, recusa localizar-se na esquerda, mas, por outro, evita cair no «não somos nem de direita nem de esquerda» ou na antipolítica15. A melhor forma de expressar esse posicionamento é a frase constantemente repetida por Iglesias: «O poder não teme a esquerda, mas sim o povo»16. Até o momento, o resultado tem sido extraordinariamente eficaz. O Podemos teve um espetacular crescimento nas pesquisas eleitorais e chegou a igualar-se ao pp e ao psoe, por mais que tenha reduzido seu ritmo nos últimos meses (nas eleições regionais de maio, obteve 15% dos votos, mas se tratava de pleitos peculiares, pouco favoráveis a uma força com escassa implantação territorial e sem líderes regionais conhecidos). Cabe destacar que seus apoios eleitorais são notavelmente interclassistas, o que não é tão surpreendente se considerarmos que o voto de classe na Espanha é menos relevante do que em outros lugares e que vem diminuindo nas últimas décadas; embora também seja certo que, com o tempo, o Podemos ganhou mais apoio entre os setores mais atingidos pela crise17.

Partido-movimento ou máquina de guerra eleitoral

O uso estratégico dos meios de comunicação por parte de Iglesias se ajusta a outro aspecto ambíguo da estratégia do Podemos. Desde o início, foi combinado um discurso horizontal e assembleísta que apela às pessoas com uma clara aspiração de impulsionar a mudança política «pelo alto», a criar uma «máquina de guerra eleitoral» capaz de tomar as urnas de assalto.

Uma das razões pelas quais o Podemos pôde conectar-se com o descontentamento social mobilizado pelo 15-m foi sua insistência na participação cidadã como um elemento central da reconstrução do espaço político sequestrado pelos mercados e pelo establishment. E é certo que o Podemos gerou uma grande efervescência social: criaram-se mais de 900 círculos, ocorreu um intenso escrutínio público dos diferentes programas e projetos da organização, dezenas de milhares de pessoas participaram de suas votações pela Internet… Mas, ao mesmo tempo, seu sucesso não pode se compreendido sem perceber que, sob a retórica do «método aberto» e da «participação», havia um pequeno e coeso grupo dirigente com ideias muito claras. Sem esse centralismo de nuances leninistas, tais resultados teriam sido impossíveis (um «leninismo amável», como chamou Juan Carlos Monedero, outro dos fundadores, hoje distanciado da direção da formação).

O apertado calendário eleitoral de 2014-2015 acelerou essa contradição. O Podemos teve de construir muito rapidamente uma organização e um ideário capazes de aproveitar a estrutura de oportunidade eleitoral que havia sido aberta, imensa mas talvez fugaz. Isso prejudicou o projeto de criação de um contrapoder popular, a construção «por baixo» de um tecido político- social capaz de dar poder diretamente ao povo. O próprio Errejón declarou em uma entrevista que era ilusão confiar um papel preponderante aos movimentos sociais e que o prioritário agora seria «a batalha político-eleitoral» e «realizar a luta no Estado»18.

No outono de 2014, o Podemos realizou uma grande Assembleia Cidadã, na qual foram estabelecidos seus princípios políticos e escolhidas as pessoas que iriam dirigir a organização. As circunstâncias para construir um partido a partir do zero não eram as mais propícias: eles não dispunham de quadros experientes, sua estruturação territorial era escassa e suas bases careciam de uma cultura política comum, sem mencionar o assédio permanente da maioria dos meios de comunicação. O debate organizacional, do qual participaram presencialmente ou a distância milhares de pessoas, foi intenso e transparente. Mas o modelo de partido finalmente aprovado era muito convencional – um secretário geral, uma executiva e um comitê central – e, além disso, utilizava um sistema majoritário de listas abertas para as eleições desses órgãos que dava todo o poder ao vencedor19.

Na Assembleia Cidadã, as teses defendidas pelo setor de Iglesias foram impostas de forma avassaladora sobre demais alternativas mais inovadoras e horizontais, que incluíam o uso do sorteio para ocupar alguns dos cargos de responsabilidade e davam mais protagonismo aos círculos de base. O processo propiciou um debate interessante sobre qual modelo seria mais democrático. Os eleitores que tomaram as decisões na assembleia não eram somente militantes que participavam dos círculos, mas qualquer simpatizante que dedicasse alguns minutos para se cadastrar na internet, o que foi feito por cerca de cem mil pessoas, das quais 81% escolheram o modelo de organização «oficialista» e 88% apoiaram Pablo Iglesias como secretário geral.

A assimetria entre o intenso ativismo dos membros dos círculos, em número relativamente pequeno, e uma grande massa de simpatizantes pouco comprometidos no dia a dia da organização oferecia um incômodo dilema. Como sugeriu um dos assinantes do manifesto fundacional do Podemos, nesse contexto, uma maior capacidade de intervenção das bases do partido poderia dar lugar a um «elitismo democrático» que busca «transformar todos os cidadãos em ativistas permanentes e privilegia a militância minoritária como fonte de decisões soberanas»20. Desse modo, uma maioria social carente dos recursos (tempo, capital simbólico e militante, interesse, etc.) que possuem os ativistas ficaria à margem da tomada de decisões. No entanto, não fica nada claro se o poder cerceado aos militantes mais ativos está se dirigindo realmente a uma camada mais ampla de simpatizantes ou se não acabará, na verdade, nas mãos da direção do partido. Este segundo aspecto é o que sugere a literatura sobre partidos políticos, a qual registrou um fenômeno semelhante nas duas últimas décadas: um esvaziamento da estrutura partidária, facilitado pelo uso de votações abertas que, sob uma aparência democrática, concentram o poder na direção21. O uso intensivo das novas tecnologias feito pelo Podemos (como os aplicativos Appgree e Reddit) é uma inovação promissora, mas não impede essa possível deriva plebiscitária; ao contrário, corre o risco de ocultá-la sob o ciberfetichismo e reproduzir politicamente o fosso digital. Votar a partir de um telefone celular ou fazer um comentário na internet não significa ter um poder real sobre a tomada de decisões.

Perspectivas de futuro

Nem mesmo seus maiores críticos negam que Pablo Iglesias e o Podemos souberam entender particularmente bem a crise de legitimidade das instituições espanholas e as novas formas de intervenção política reveladas durante o 15-m. Em muito pouco tempo, eles criaram uma ferramenta que foi além das dinâmicas tradicionais da esquerda e se transformou no centro do debate político, navegando com sucesso pelas correntes da indignação e desafeto que sacodem a sociedade espanhola.

A melhor forma de medir esse sucesso talvez sejam as reações provocadas. O Podemos tornou-se alvo de vários ataques ao longo dos últimos meses e obrigou o restante dos atores a se posicionarem diante dele e assumirem sua própria linguagem. Além disso, semeou a inquietação do poder financeiro22 e forçou atores como a Casa Real e o psoe a acelerarem sua renovação. Mas a reação de maior destaque das filas do «regime de 78» foi a repentina ascensão do Cidadãos na política nacional: uma formação ideologicamente ambígua, que vem cumprir o desejo dos grandes poderes econômicos e midiáticos que a promoveram, isto é, criar «uma espécie de Podemos de direita», para empregar a expressão do presidente do Banco Sabadell23. Em poucos meses, o Cidadãos, que conta com uma trajetória de uma década na política catalã, aproveitou a brecha aberta pelo Podemos para se transformar na quarta força, assumindo dois de seus ativos (a ambiguidade ideológica e a bandeira da nova política) e diferenciando-se de seu adversário em sua moderação, expressa no lema «mudança sensata e viável».

Mas o efeito mais importante do Cidadãos não é ter detido o crescimento eleitoral do Podemos pelo centro ideológico, e sim ter virado o tabuleiro político, pela segunda vez em muito pouco tempo, de um modo desfavorável para a estratégia populista: em lugar de um campo de batalha polarizado entre o Podemos e a «casta», o novo cenário está atravessado por duas linhas divisórias (esquerda/direita e nova/velha política) que fragmentam o sistema de partidos em quatro forças desiguais. Nesse cenário, o pp perde muitos apoios para o Cidadãos, o psoe recupera parte de sua centralidade graças à sua disponibilidade para pactuar com quase todos eles, e o Podemos não só vê frustrado seu plano inicial de forçar uma grande coalizão entre seus adversários para simplificar a disputa política, mas deve também lutar em mais uma frente. Esse novo contexto pode propiciar outra guinada estratégica no Podemos: uma espécie de party-in-progress que não deixou de mudar desde sua fundação. Nesse sentido, ele terá de lidar com algumas das fragilidades que herdou do 15-m e, de maneira mais geral, da democracia espanhola – como a fragilidade da sociedade civil e o declínio da classe como eixo político –, bem como enfrentar alguns dilemas que, até este momento, graças à sua vertiginosa ascensão, tiveram um impacto relativamente menor.

Em primeiro lugar, é difícil pensar que a organização possa sobreviver no médio prazo sem uma militância estruturada territorialmente e identificada com o projeto, capaz de defender o partido dos crescentes ataques dos meios de comunicação e de manter altos níveis de mobilização. A estratégia de mudança «pelo alto» seguida até agora e a exclusão dos setores críticos podem ser insuficientes ou contraproducentes nesse sentido. Em segundo lugar, o Podemos deverá redefinir sua estratégia de alianças com outras organizações de esquerda – particularmente uma iu em crise – e com distintas iniciativas cidadãs, como aquelas com as quais foram conquistadas as administrações municipais de Madri e Barcelona nas recentes eleições. Trata-se de forças menos poderosas que o Podemos, mas que concentram um número considerável de ativistas experientes e cuja confluência em candidaturas mais inclusivas pode atrair um apoio social mais amplo, especialmente quando encabeçadas por personalidades carismáticas, como é o caso da ativista Ada Colau em Barcelona e da ex-juíza Manuela Carmena em Madri. Por último, ele terá que combinar sua rejeição ao regime em termos populistas («o povo» contra «a casta») com a participação institucional e o desenvolvimento programático de suas propostas.

Talvez o maior desafio que o Podemos deve enfrentar é a fragilidade do movimento trabalhador, sem mencionar a centralidade dos discursos de classe média na política espanhola. Popularizou-se a ideia de que as classes médias são as mais castigadas pela crise, por mais que a realidade empírica desminta essa crença (os salários dos setores de baixa renda caíram numa taxa três vezes maior que a dos salários da população de renda média24). Os próprios movimentos sociais viram-se arrastados por essa dinâmica «classemedista». Nem o 15-m nem as grandes mobilizações posteriores conseguiram entrar ou fazer-se ouvir no mundo do trabalho (além disso, apesar da visibilidade de algumas greves, o número de horas não trabalhadas não aumentou nesses anos). Eles também não puderam abordar os trabalhadores migrantes (mais de 10% da população espanhola), certamente o grupo mais castigado pela crise econômica e pelos cortes sociais25. Por outro lado, os discursos críticos mais bem recebidos têm sido aqueles que denunciam a situação dos jovens universitários de classe média que viram frustradas suas expectativas e precisam emigrar a outros países europeus. Até o momento, o Podemos se adaptou a essa realidade. Seus porta-vozes quase nunca se referem a classe social e, em seu lugar, fazem frequentemente movimentos para atrair autônomos e pequenos empresários. Com certeza, trata-se de uma estratégia eleitoral inteligente, mas é difícil imaginar que um projeto de transformação social possa evitar permanentemente os conflitos de classe.

A perspectiva de uma possível vitória eleitoral do Podemos no futuro também abre questionamentos sobre a mudança que se pode esperar com isso. Até agora, o Podemos se alimentou da frustração gerada pela crise econômica e pela perda de legitimidade do quadro político herdado. A conjuntura política ajudou muito. Nos últimos meses, eclodiram vários escândalos de corrupção que afetam as mais altas instâncias, como a Casa Real e o partido atualmente no governo. Nesse contexto de decomposição, um discurso que apele à «decência» frente à usurpação do espaço público por uma coalizão espúria de interesses políticos e financeiros é uma importante carta na manga. Mas, sem dúvida, esse é um programa no mínimo bastante modesto.

A ideia de um «processo constituinte» surge como promissora, mas, pelo menos neste momento, é muito difusa. Em termos gerais, um horizonte razoável no curto prazo é um cenário pós-neoliberal com políticas públicas centradas na redistribuição da riqueza e regeneração das instituições. Sem dúvida, um programa como esse não satisfaz as aspirações da esquerda revolucionária, mas abre uma oportunidade de terminar com a expropriação a que foi submetido o país durante as últimas décadas e com os déficits democráticos do «regime de 78».

Todas essas contradições e desafios não deveriam ocultar o fato de que o Podemos abriu uma janela de oportunidade política inesperada e de efeitos imprevisíveis. Pela primeira vez em décadas, uma esquerda acostumada com a derrota encontra-se em condições de desafiar uma maioria social para protagonizar uma profunda mudança. E mais: como ocorreu na América Latina no início do século, o Podemos e o Syriza poderiam ser a semente de uma mudança de hegemonia de escala continental. Utilizando o não pagamento da dívida como alavanca, os piigs26 podem se transformar no propulsor de uma reação em cadeia democratizadora que tome o controle da ue da mão das elites econômicas e políticas. Embora a deriva grega alerte sobre as dificuldades de enfrentar aqueles que hoje mandam no continente.

  • 1.

    Discurso disponível em <www.rtve.es/ alacarta/videos/especiales-informativos/ podemos-se-convierte-cuarta-fuerza-parlamen taria-elecciones-europeas/2581640/>.

  • 2.

    Os dados são do Instituto Nacional de Esta- tística (ine), salvo o referido à desigualdade, que é do relatório do Fundo Monetário Interna- cional (fmi): Fiscal Policy and Income Inequality, imf Policy Paper, 23/1/2014; e os dados sobre o número de despejos, que é uma estimativa da Plataforma de Afetados pela Hipoteca (pah).

  • 3.

    Wolfgang Merkel: ¿Final de la socialdemocra- cia? Recursos de poder y política de gobierno en los partidos socialdemócratas en Europa Occidental, Alfons el Magnànim, Valência, 1995.

  • 4.

    4. O gasto social cresceu mais durante os sete anos de governos de centro-direita (de 11,7% a 17,7% do pib, entre 1975 e 1982) do que nos 14 anos de governos socialistas (de 17,7% a 21,5%). Ver Sergio Espuelas Barroso: «La evolución del gasto social público en España (1850- 2005)» em Estudios de Historia Económica No 63, 2013.

  • 5.

    5. Albert Recio e Jordi Roca: «The Spanish So- cialists in Power: Thirteen Years of Economic Policy» em Andrew Glyn (ed.): Social Demo- cracy in Neoliberal Times: The Left and Economic Policy since 1980, Oxford University Press, Oxford, 2001.


  • 6.

    6. José Manuel Naredo: La burbuja inmobiliario- financiera en la coyuntura económica reciente, Si- glo xxi, Madri, 1996.

  • 7.

    María Antonia Iglesias: La memoria recupe- rada. Lo que nunca han contado Felipe González y los dirigentes socialistas de sus años de gobierno, Aguilar, Madri, 2004, pp. 151 e 210.

  • 8.

    8. O conceito é de Robert Brenner: The Econo- mics of Global Turbulence: The Advanced Capita- list Economies from Long Boom to Long Down- turn, 1945-2005, Verso, Londres, 2006, e foi aplicado ao caso espanhol por Isidro López e Emmanuel Rodríguez: «El modelo español» em New Left Review No 69, 2011.


  • 9.

    Na Espanha, o movimento 15-m nunca se sentiu identificado com o termo «indignados» que, contudo, se popularizou em outros paí- ses. Particularmente, a obra de Stéphane Hes- sel intitulada Indignai-vos! teve uma influência completamente marginal no movimento 15-m.

  • 10.

    Errejón: «También en Europa: posibilida- des populistas en la política europea y espa- ñola» em Viento Sur No 115, 3/2011.

  • 11.

    Centro de Investigaciones Sociológicas (cis): Barómetro de Marzo. Distribuciones marginales, Estudio No 2981, 3/2013, disponível em <www. cis.es/cis/export/sites/default/-Archivos/ Marginales/2980_2999/2981/Es2981.pdf>.

  • 12.

    A natureza desse ataque se assemelha ao que descreve Marco D’Eramo em «El populis- mo y la nueva oligarquía», em New Left Review No 82, 9-10/2013. É possível ver um recente e interessantíssimo debate entre vários líderes do Podemos e da iu no programa de televisão Fort Apache, que apresenta o próprio Iglesias sob o título «Podemos y el populismo», disponível no YouTube, <www.youtube.com/watch?v=-q9oxr54X_Y>.

  • 13.

    Ver E. Laclau: La razón populista, Fondo de Cultura Económica, México, df, 2005 [há uma edição em português: E. Laclau: A razão popu- lista, Três Estrelas, São Paulo, 2013]; e E. Laclau e Chantal Mouffe: Hegemonía y estrategia so- cialista, Fondo de Cultura Económica, Buenos Aires, 2001 [há uma edição em português: E. Laclau e C. Mouffe: Hegemonia e estratégia so- cialista, Intermeios, São Paulo, 2015].

  • 14.

    cis: Barómetro de Julio 2014, Estudio No 3033, 7/2014; e Barómetro de Octubre 2014, Estudio No 3041, 10/2014.

  • 15.

    Nas palavras do próprio Iglesias: «Eu nunca disse que não somos nem de esquerda nem de direita. (...) O que digo é que nossa mensagem não é de direita nem de esquerda, e isso é de senso comum». Em Ana Bernal Triviño: «Pablo Iglesias: ‘La clave no es un eje derecha-izquier- da, sino democracia-dictadura’» em Andaluces. es, 13/2/2014. Na realidade, com o 15-m ocorreu algo semelhante.

  • 16.

    Olga Rodríguez: «Pablo Iglesias: ‘El poder no teme a la izquierda, sino a la gente’» em eldiario. es, 25/6/2014.

  • 17.

    obre o perfil dos eleitores do Podemos, v. José Fernández-Albertos: Los votantes de Podemos. Del partido de los indignados al partido de los excluidos, Los Libros de la Catarata, Madri, 2015. Sobre o complexo debate em torno do voto de classe na Espanha e em outros países, v. Paul Nieuwbeerta e Nan Dirk de Graaf: «Traditional Class Voting in Twenty Postwar Societies» em Geoffrey Evans (ed.): The End of Class Politics? Class Voting in Com- parative Context, Oxford University Press, Oxford, 1999; e Lluis Orriols: «Social Class, Religiosity, and Vote Choice in Spain, 1979-2008» em G. Evans e N.D. de Graaf (eds.): Political Choice Mat- ters. Explaining the Strength of Class and Religious Cleavages in Cross-National Perspective, Oxford University Press, Oxford, 2012.

  • 18.

    Pablo Rivas: «Estamos orgullosos de que la oligarquía española tenga miedo», entrevista com Iñigo Errejón em Diagonal, 7/11/2014.

  • 19.

    Sobre isso, a caracterização do Podemos como um «partido-movimento» feita por Boaventura de Sousa Santos é equivocada. B. de Sousa Santos: «La ola Podemos» em Página/12, 23/11/2014.

  • 20.

    Santiago Alba Rico: «El lío de Podemos y los tres elitismos» em Cuarto Poder, 4/10/2014.

  • 21.

    V., por exemplo, Susan E. Scarrow, Paul Webb e David M. Farrell: «From Social Inte- gration to Electoral Contestation. The Chan- ging Distribution of Power within Political Parties» em Russell J. Dalton e Martin P. Wat- tenberg (eds.): Parties without Partisans. Politi- cal Change in Advanced Industrial Democracies, Oxford University Press, Oxford, 2000.

  • 22.

    Pouco antes de sua morte, ocorrida em setembro de 2014, o banqueiro Emilio Botín, presiden- te do Banco Santander, expressou em um jantar privado sua preocupação com a ascensão do Podemos (El País, 10/9/2014). Algo semelhante fize- ram o Bank of America, o Merril Lynch, a Endesa e o jp Morgan. V. El Mundo, 9/11/2014.

  • 23.

    El Periódico, 25/6/2014.

  • 24.

    Amanda Mars: «El ajuste salarial se ceba

    en los estratos de trabajadores peor pagados»

    em El País, 18/12/2013.

  • 25.

    A única exceção é a Plataforma de Afeta- dos pela Hipoteca, de cujas mobilizações par- ticipam habitualmente tanto espanhóis como imigrantes.

  • 26.

    Acrônimo – que em inglês forma a palavra «porcos» – utilizado para se referir de forma pejorativa a vários países europeus (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) que sofre- ram mais do que seus vizinhos de continente.

Este artículo es copia fiel del publicado en la revista Nueva Sociedad , Novembro 2015, ISSN: 0251-3552


Newsletter

Suscribase al newsletter