Tema central
NUSO Nº Agosto 2016

«Nem populistas, nem conservadores» Dilemas e desafios do socialismo democrático argentino

A trajetória histórica do Partido Socialista na Argentina apresenta alguns elementos comuns às experiências – e tensões – vividas pela social-democracia na América Latina. Ou seja, como se posicionar diante das experiências populistas sem se deixar absorver por um republicanismo democrático genérico que descaracterize todo o perfil socialista. Isso leva a repensar a quem se destina o discurso dos socialistas e a (re)construir conexões com o undo popular e dos movimentos sociais, e também com outras correntes da esquerda atual.

«Nem populistas, nem conservadores»  Dilemas e desafios do socialismo democrático argentino

Há poucos meses, houve eleições presidenciais na Argentina. Uma coalizão liderada pela Proposta Republicana (pro), um partido de centro-direita e formação relativamente recente, venceu por uma margem estreita a Frente para a Vitória (fpv, kirchnerista), força que dominou a política nacional por mais de uma década. Entre os derrotados no sufrágio encontrava-se um Partido Socialista (ps) que, como ocorria no passado, não conseguiu exercer influência em um cenário polarizado que permaneceu preso à dicotomia populismo-antipopulismo.Neste artigo, tentaremos refletir sobre os desafios enfrentados hoje pelo ps argentino à luz de sua trajetória histórica. Depois de destacar uma tensão que atravessou as fileiras socialistas desde seus primeiros anos – identificar-se como partido operário ou como partido de cidadãos –, abordaremos a posição adotada pelo socialismo diante das distintas experiências populistas, enfatizando como o enfrentamento com elas, sobretudo com o peronismo, fez o ps acentuar a dimensão cívica e universalista de seu discurso. Em seguida, consideraremos as profundas transformações vividas pelo espaço da esquerda argentina tanto no final da década de 1950 como durante os anos 1980, que geraram um processo de divisão e reunificação do espaço socialista, para então analisarmos a forma como um ps «renascido» colocou-se diante dos governos kirchneristas. O artigo termina propondo as alternativas que, imaginamos, os novos tempos políticos abrem para o crescimento de uma força socialista.

De partido operário a partido de cidadãos

O ps argentino nasceu no final do século xix como resultado de um processo de articulação de um conjunto de centros socialistas e associações profissionais que reuniam trabalhadores imigrantes. Até o início do século xx, e apesar de o controle do partido ter passado progressivamente para as mãos de um núcleo de intelectuais liderado por Juan B. Justo, a agremiação manteve sua identificação como representante dos interesses dos trabalhadores e a rejeição aos discursos que diluíam a identificação de classe em um genérico interesse nacional. O «Manifesto eleitoral», com o qual o ps concorreu eleitoralmente pela primeira em 1896, já declarava: «Fundamentalmente diferente dos demais partidos, o Partido Socialista Operário não diz lutar por puro patriotismo, mas sim por seus interesses legítimos; não pretende representar os interesses de todos, mas do povo trabalhador, contra a classe capitalista opressora e parasita»1.

A citação merece dois comentários. O primeiro é que, no vocabulário socialista, o apelo amplo ao «povo» aparecia limitado pelos qualificativos «operário» e «trabalhador», o que dificultava a inclusão de setores não estritamente identificados com a classe operária. O segundo comentário é que, a partir de 1900 e especialmente após a sanção da Lei Sáenz Peña – que, ao estabelecer o voto secreto e obrigatório, ampliou o universo de representação política, culminando na vitória eleitoral da União Cívica Radical (ucr) e também no crescimento do ps –, os socialistas passaram a combinar sua inicial interpelação classista com apelos universalistas aos «cidadãos» e aos «consumidores». Com o passar do tempo, o discurso socialista foi transitando de uma reivindicação obreirista, nem sempre despojada de um corporativismo estreito, a um discurso universalista que apelava à «cidadania» em seu conjunto. No entanto, como lamentava José Aricó em linha gramsciana2, seu discurso não avançaria na construção de uma interpelação nacional-popular que superasse o particularismo proletário para ligar o inicial destinatário trabalhador a outros setores que se opunham ao bloco dominante liderado pelos grupos de grandes proprietários de terras.

O ps e os movimentos populistas

A combinação entre o discurso classista e o cívico, proposto em tom civilizatório, teria uma clara expressão no lema que o ps usou para se posicionar diante da primeira experiência populista da história argentina: «Nem barbárie yrigoyenista, nem reação conservadora». Se o discurso civilizatório distanciava os socialistas de um movimento que consideravam atávico e personalista como aquele que seguia o líder radical Hipólito Yrigoyen, sua orientação social tornava impossível que eles coincidissem com forças como o Partido Conservador que, denunciando essa «barbárie yrigoyenista», organizariam o primeiro golpe de Estado da história argentina. Os socialistas permaneceram «sozinhos contra todos», como dizia outro de seus lemas, em uma quase impossível terceira posição, rejeitando as conspirações golpistas e, ao mesmo tempo, pedindo a renúncia de Yrigoyen.

Já a posição do ps frente ao segundo movimento populista, o peronismo, foi diferente. Embora tenha recebido com expectativa a revolução de junho de 1943, um novo golpe de Estado que vinha a terminar com os fraudulentos regimes conservadores, o socialismo logo se colocou na oposição a um governo revolucionário contra o qual denunciava a política repressiva e a presença de setores nacionalistas que identificava com o fascismo e o nazismo. Tal caracterização inicial esteve longe de ser abandonada quando a figura de Juan D. Perón, de crescente relevância dentro do governo militar, promoveu uma política que contemplava muitas das reivindicações sociais que o ps havia defendido durante décadas. Ao contrário, o socialismo viu no «obreirismo» de Perón um elemento que o assemelhava ao fascismo. Foi assim que, sob a direção intelectual de Américo Ghioldi, o ps diluiu ainda mais a perspectiva social em um discurso cívico modulado em tom liberal e denunciou a política social empreendida pelo governo militar, e depois pelo regime peronista que o sucedeu, como uma tentativa de subornar os setores populares para que se submetessem a um governo totalitário3. No final da década de 1940, o uso do conceito «totalitarismo» – que incluía nazismo e fascismo, mas também comunismo – permitia acentuar a crítica a um governo que, tal como se posicionava com relação ao stalinismo prevalecente na União Soviética, se apresentava como representante dos trabalhadores, mas reforçava sua submissão. Esse olhar fez com que o ps interpretasse toda a política de conciliação com o peronismo como deserção e até mesmo traição. Uma avaliação mais matizada dos significados do peronismo só começaria a ser produzida depois da queda de Perón em 1955.

Da nova esquerda à esquerda democrática

Como afirma Carlos Altamirano, no final da década de 1950 a cultura política da esquerda argentina passou por uma profunda transformação: até aquele momento, as forças que a compunham se apresentavam como a ala avançada de um «campo democrático e progressista», mas depois de 1955 a esquerda passou a se pensar como parte de um «campo nacional» estruturado no discurso anti-imperialista4. Com base nesse discurso, a «nova esquerda» dos anos 1960 já não interpretaria o peronismo como um movimento autoritário, tampouco totalitário, mas sim como um movimento de libertação nacional.

A mudança gerou impacto nas filas socialistas. Já em 1957, e contra as previsões de Ghioldi, começaram a surgir vozes que propunham a necessidade de reavaliar o papel do peronismo no caminho rumo ao socialismo. A reivindicação, que abria o horizonte para uma confluência entre esquerda e peronismo, acabou tornando impossível a unidade do ps, que se fraturou entre um Partido Socialista Democrático (psd), que pendeu cada vez mais para o liberalismo econômico e certo conservadorismo político e cultural, e um Partido Socialista Argentino (psa), que, especialmente a partir de seus grupos jovens, ergueu bandeiras anti-imperialistas para logo se dividir em aqueles que apostavam em construir um partido de vanguarda revolucionária de linha leninista e maoísta, e aqueles que buscavam a fusão com as massas peronistas5. O resultado das sucessivas divisões foi a dispersão do espaço socialista, ao ponto de, até o início da década de 1970, a principal ressonância do termo «socialismo» na política argentina encontrar-se no vago «socialismo nacional» proclamado pela esquerda peronista.

Passamos à segunda grande mudança no mundo da esquerda: no princípio da década de 1980, uma nova ruptura na tradição de esquerda produziu o surgimento de uma «esquerda democrática», que se preocupou mais com a questão da democracia e das liberdades que com a «questão nacional» e direcionou seu olhar não ao Estado, mas à «sociedade». Participou dessa iniciativa de renovação o núcleo de intelectuais reunido no Clube de Cultura Socialista, do qual participavam, entre outros, Juan Carlos Portantiero, José Aricó, Emilio de Ípola, Oscar Terán, Beatriz Sarlo e Carlos Altamirano, que, afastando-se das posturas insurrecionais e estatistas da «nova esquerda» dos anos 1960, puderam recuperar elementos do legado societalista de Juan B. Justo e o velho socialismo argentino6. Participaram também, com um papel decisivo, dois partidos políticos que trilhavam o caminho de recuperar a identidade do antigo ps para construir uma esquerda democrática, ainda que partindo de origens muito diferentes. Nesse movimento, tais partidos experimentaram importantes mudanças identitárias. Por um lado, o psd, que após a morte de Ghioldi, e graças tanto a uma mudança geracional como à entrada de um núcleo de militantes vindos da Confederação Socialista Argentina (csa), passou por um processo de renovação ideológica que o fez abandonar seus traços mais conservadores. Por outro lado, o Partido Socialista Popular (psp) – uma força nascida do Movimento Nacional Reformista (mnr), um grupo de estudantes universitários liderado por Guillermo Estévez Boero e com bases na província de Santa Fe – matizou os componentes mais nacionalistas e populistas no tocante à sua cultura política e adotou um perfil mais claramente social-democrata. No final dos anos 1980, ambas as forças constituíram a Unidade Socialista (us), uma aliança eleitoral que propôs como horizonte a unificação das forças socialistas dispersas e a refundação do ps7. O caminho até a unificação foi longo. Nele ocorreram vitórias eleitorais, como a alcançada em 1989, quando o psp obteve o governo municipal de Rosário (a terceira cidade mais populosa da Argentina); mas ocorreram também frustrações políticas, como a da Aliança para o Trabalho, a Justiça e a Educação, coalizão eleitoral liderada pela ucr composta pela us e que, no final de 2001, acabou por abandonar o governo em meio a uma profunda crise política, econômica e social que provocou a renúncia do presidente Fernando de la Rúa. Finalmente, um congresso realizado em junho de 2002 assinou a ata de fundação do novo ps.

O ps nos anos kirchneristas

Pouco após sua refundação, o ps enfrentou os desafios associados a uma nova experiência populista aberta com a vitória de Néstor Kirchner nas eleições presidenciais de maio de 20038. Em termos gerais, a posição do socialismo foi mais parecida com a alternativista («nem com uns nem com outros») adotada em relação ao yrigoyenismo do que com o alinhamento absolutamente opositor dos anos do primeiro peronismo. Embora tenha criticado o estilo de gestão e muitas das medidas tomadas por Kirchner e Cristina Fernández ao longo de seus doze anos de governo, o ps não adotou uma oposição total e apoiou medidas como a Lei 26.522 de Serviços de Comunicação Audiovisual9, o reconhecimento pelo Estado do direito à união civil entre pessoas do mesmo sexo e a Bolsa Universal por Filho10 (auh, na sigla em espanhol)11. Outra diferença importante em comparação com o que ocorreu durante o primeiro peronismo se deu na relação com os setores antikirchneristas: longe de propor, como naqueles tempos, a subordinação de todas as diferenças ao objetivo de construir uma «união sagrada» que destituísse o governo «inimigo», o ps enfatizou a necessidade de que as alianças se fundamentassem em um perfil programático definido. Podemos dizer que, em linhas gerais, nos anos kirchneristas – e diferentemente do ocorrido nas décadas de 1940-50 –, o socialismo não diluiu sua identidade nem adotou o discurso de que tudo era permitido para derrotar os governistas. Adotando uma posição que não negava os avanços – que, em termos de igualdade, impulsionavam os governos kirchneristas –, mas sim as características discricionárias e pouco republicanas de sua gestão, que afetam muitas das políticas de igualdade empreendidas, o ps tornou-se o eixo de uma coalizão de forças de esquerda democrática – a Frente Ampla Progressista (fap) –, com a qual obteve a segunda maior votação nas eleições presidenciais de 201112.

No entanto, o ps não pôde consolidar o espaço da fap para se transformar no articulador de uma oposição que enfrentasse o governo de Cristina Fernández com base nas reivindicações de maior igualdade de democracia; ao contrário, aproximou-se dos setores mais radicalmente antikirchneristas, como a Coalizão Cívica liderada por Elisa Carrió, com a qual, juntamente com a ucr, se reuniu na Frente unen, constituída na cidade de Buenos Aires durante as eleições legislativas de 2013. A aliança foi o embrião da Frente Ampla unen (faunen), coalizão criada em 2014 tendo como objetivo as eleições presidenciais do ano seguinte. Entretanto, a aliança naufragou: a força da polarização entre kirchnerismo e antikirchnerismo obteve mais sucesso. A ucr e a Coalizão Cívica abandonaram a faunen para formalizar a aliança opositora Mudemos, hegemonizada pela centro-direita do pro e que saiu vitoriosa nas eleições presidenciais de 2015. Por sua vez, o ps tentou com pouco sucesso superar a polarização eleitoral constituindo uma aliança de centro-esquerda denominada Progressistas, com a qual obteve parcos resultados13.

Perspectivas futuras

Hoje, o ps voltou a ocupar um lugar de menor destaque no cenário político nacional14. Diante disso, é possível que alguns de seus dirigentes proponham sair da situação aproximando-se da coalizão vencedora. Essa saída – favorecida também pelo esquema de alianças que, em nível provincial, vincula o ps à ucr, esta por sua vez integrante do Mudemos, e até mesmo ao pro – pode ser atraente em matéria de recursos materiais, mas dispendiosa em termos identitários. Outra alternativa, favorecida por um mapa político que pende à direita – tanto pelo perfil do governo de Macri como pelos postulantes à renovação de liderança dentro do peronismo –, pode ser a reafirmação do papel do ps na construção de um espaço de esquerda democrática.

É provável que o cenário descrito abra um espaço interessante para um socialismo que, sem deixar de sustentar as bandeiras republicanas, enfatize o componente igualitário de seu discurso e acentue o vínculo com os trabalhadores e excluídos. Isso tornaria necessário que o ps deixasse de se apresentar somente como uma «esquerda moral», definida pela opção por certos valores como a igualdade e a justiça, para se construir também como uma «esquerda social», que associa suas posições a atores sociais15. No momento, o partido compartilha as limitações que, já em 1994, Julio Godio havia diagnosticado a respeito de outra força de esquerda democrática, o Partido da Frente, embrião da Frente País Solidário (Frepaso) que seria integrada pelos socialistas: as limitações de representar um setor de «cidadãos progressistas» sem se conectar com nenhum interesse social e, particularmente, com os interesses do movimento operário e «o mundo dos excluídos»16. Mas conectar-se com esses interesses supõe, além de mudanças estratégicas e organizacionais, avançar na definição do sujeito político que o socialismo se propõe a representar. Se há um sujeito que ocupa um lugar central nos discursos do ps, este é a cidadania democrática, uma identificação muito frágil, associada a uma defesa genérica da democracia na qual a aposta transformadora do socialismo se dilui. Mesmo reconhecendo a pertinência da crítica à visão essencialista com que a esquerda nomeou categorias como «classe operária», torna-se hoje necessária a definição do sujeito «oprimido» em nome do qual o socialismo toma a palavra17. Sem apelar ao mundo dos «humilhados e ofendidos», o socialismo se apresenta como um liberalismo de esquerda, como um vago «progressismo». Esse posicionamento está associado, por um lado, à dificuldade de se diferenciar de um radicalismo que também se propõe como um liberalismo progressista18, e por outro – e mais importante –, à adesão a uma concepção excessivamente consensualista e gerencial da política, que supõe que os problemas políticos se solucionam com diálogo e boa administração.

A não problematização desses supostos impedirá propor uma leitura atenta às luzes e sombras da coalizão que apoia o governo de Macri e a aliança Mudemos. É necessário mencionar que nem todos os seus simpatizantes propõem uma restauração neoliberal, o que implica a possibilidade de levar em consideração a legitimidade de algumas de suas demandas, como reconhecer que muitos outros o fazem. Isto deve levar a combater os argumentos do individualismo possessivo que penetraram profundamente no senso comum de boa parte da sociedade argentina.Para isso, o ps deveria construir uma narrativa própria que, reconhecendo erros e até mesmo horrores, possa recuperar mais de um século de lutas e projetar um horizonte para a ação socialista. Tal abordagem permitirá definir aliados e adversários, além de estabelecer vínculos com os movimentos sociais – como o movimento dos trabalhadores, os movimentos de desempregados, os movimentos de mulheres, os que se opõem ao modelo extrativista de desenvolvimento – e com outras expressões da esquerda política: a esquerda revolucionária, concentrada na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (fit, por sua sigla em espanhol) e a esquerda nacional-popular, reunida em torno do kirchnerismo, esteja este dentro ou fora do Partido Justicialista19. Como ocorreu nos «longos» anos 1960 e também na década de 1990, quando o governo de Carlos Menem combinou tradição peronista e neoliberalismo20, hoje o socialismo tem o desafio de dialogar com uma esquerda nacional-popular que, apesar da derrota eleitoral, conserva importantes apoios não só entre os setores populares, mas também nas classes médias, sobretudo entre universitários, profissionais e intelectuais.

Há o risco de ser absorvido pelo nacionalismo popular, como ocorreu nos anos 1960-70, ou também o da adoção de um republicanismo genérico que descaracteriza todo o perfil socialista.

Os dilemas do passado parecem se repetir; o desafio passa pela construção de uma identidade própria e a decisão de apostar no longo prazo, sem aderir a uniões sagradas ou a governos de salvação nacional.

  • 1.

    Em La Vanguardia, 29/2/1896.

  • 2.

    J. Aricó: La hipótesis de Justo. Escritos sobre el socialismo en América Latina, Sudamericana, Buenos Aires, 1999, p. 229.

  • 3.

    Sobre a interpretação socialista do peronismo, v. Carlos Herrera: «¿La hipótesis de Ghioldi? El socialismo y la caracterización del peronismo (1943-1956)» em Hernán Camarero e C. Herrera (comp.): El Partido Socialista en Argentina: sociedad, política e ideas a través de un siglo, Prometeo, Buenos Aires, 2005; R. Martínez Mazzola: «Nacionalismo, peronismo, comunismo. Los usos del totalitarismo en el discurso del Partido Socialista argentino (1946-1953)» em Prismas. Revista de Historia Intelectual No 15, 2011, pp. 105-125.

  • 4.

    C. Altamirano: «Peronismo y cultura de izquierda en la Argentina (1955-1965)» em Peronismo y cultura de izquierda, Siglo xxi, Buenos Aires, 2011, p. 96.

  • 5.

    Sobre a série de rupturas do ps e o surgimento em seu seio de correntes que buscavam conectar-se com o peronismo, v. María Cristina Tortti: El «viejo» partido socialista y los orígenes de la «nueva» izquierda (1955-1965), Prometeo, Buenos Aires, 2009.

  • 6.

    A respeito da recuperação do «velho» legado socialista pelos intelectuais do Clube de Cultura Socialista, v. R. Martínez Mazzola: «Intelectuales en búsqueda de una tradición. Aricó y Portantiero lectores de Juan B. Justo» em Alfredo Remo Lazzeretti e Fernando Manuel Suárez (coord.): Socialismo y democracia, Editorial de la Universidad Nacional de Mar del Plata, Mar del Plata, 2015; para uma caracterização mais ampla dos debates da esquerda democrática da década de 1980, v. Ariana Reano: «Discutir el liberalismo, revisar el socialismo, conquistar la democracia. Revisitando el debate político intelectual hacia el final de la transición democrática argentina» em Estudios Sociales, No 45, segundo semestre de 2013.

  • 7.

    Sobre as transformações do psd e do psp, v. F. Suárez: «El socialismo y los desafíos de la democratización» em A.R. Lazzeretti e F.M. Suárez (coord.): Socialismo e democracia, cit.

  • 8.

    Em rigor, quem obteve o primeiro lugar no sufrágio presidencial foi Carlos Menem, que atingiu 24,45% dos votos. Contudo, como ele renunciou à disputa no segundo turno eleitoral, no qual era previsto que sofreria uma derrota esmagadora, foi consagrado como presidente Néstor Kirchner, que havia sido o segundo candidato mais votado, com 22,24% dos votos. A chapa do ps, integrada por Alfredo Bravo e Rubén Giustiniani, obteve somente 1,12% dos votos.

  • 9.

    Também conhecida como Ley de Medios, é uma lei promulgada em 2009 que revoga a legislação anterior sobre o tema (aprovada em 1980 durante o governo da junta militar), promove a democratização dos meios de comunicação do país e combate o monopólio no setor [n. do t.].

  • 10.

    Programa de proteção social criado em 2009 que, em linhas gerais, reconhece a pessoas de baixa renda o direito à transferência mensal de um valor por cada filho, da gravidez a seus 18 anos de idade, condicionada a requisitos educacionais e de saúde [n. do t.].

  • 11.

    Isso não impediu que houvesse setores que sustentassem que o ps deveria adotar uma postura de claro apoio às políticas que eram conduzidas pelos governos kirchneristas. Esses setores acabaram por se separar das filas do ps para criar a Confederação Socialista para a Vitória.

  • 12.

    O primeiro lugar foi ocupado pela chapa da fpv, liderada por Cristina Fernández, que obteve 54,11% dos votos. A chapa da fap, integrada por Hermes Binner e Norma Morandini, conquistou 16,81% dos eleitores.

  • 13.

    No primeiro turno eleitoral, a aliança Progressistas, da qual o ps fazia parte – depois de propor a candidatura de Binner, acabou apoiando Margarita Stolbizer, dirigente de origem radical –, obteve somente 2,51% dos votos. No segundo turno, quando o ps se recusou a apoiar qualquer das forças em disputa, a chapa da aliança Mudemos, encabeçada por Mauricio Macri, obteve 51,34% dos votos e venceu por uma estreita margem a aliança da fpv, que conquistou 48,66% dos eleitores.

  • 14.

    No plano da política local da província de Santa Fe, a afirmação anterior deve ganhar destaque. Nas eleições provinciais de junho de 2015, o socialista Miguel Lifschitz obteve uma vitória apertada sobre Miguel del Sel, candidato do pro. Desse modo, a Frente Progressista Cívica e Social (ps-ucr) pôde conservar o governo de Santa Fe, que havia conquistado pela primeira vez em 2007.

  • 15.

    Juan Carlos Torre: «Comentarios a la ponencia de Carlos Altamirano» em Prismas. Revista de Historia Intelectual No 1, 1997.

  • 16.

    J. Godio: «La tensión entre el progresismo y el mundo del trabajo: el Partido del Frente» em La Ciudad Futura No 41, 1994.

  • 17.

    Devemos enfatizar que se trata de uma construção. As relações de opressão não são transparentes; apenas aparecem como tais a partir da existência de um discurso que as nomeia definindo um oprimido e um opressor. Como destaca Gerardo Aboy Carlés, a opressão não remete a uma posição social, mas sim a uma gramática de construção de identidade (v. «De lo popular a lo populista o el incierto devenir de la plebs» em G. Aboy Carlés, Sebastián Barros e Julián Melo: Las brechas del pueblo. Reflexiones sobre identidades populares y populismo, ungs/undav, Los Polvorines, 2008). Essa consideração deve nos levar a problematizar, ao menos no plano analítico, a distinção previamente proposta entre «esquerda de ideias» e «esquerda de interesses»; os interesses não são «coisas» que estejam esperando que alguém as registre, mas construções sociais. O desafio para a esquerda, e não só a argentina, é definir um discurso que, ao dar «nome» a esses interesses, os reconheça como «parte», negada pelo discurso adversário, e os articule com um projeto coletivo que os reconheça.

  • 18.

    A tarefa de diferenciação com relação à ucr é ainda mais difícil devido ao estreito vínculo que grande parte dos quadros dirigentes do ps, provenientes do mnr e do psp, mantém com seus pares que militaram na Franja Morada, braço universitário do radicalismo. Ainda que fosse necessário realizar indagações mais específicas sobre o tema, podemos nos arriscar a dizer que as experiências compartilhadas no mundo da militância universitária favorecem uma tradição de negociação e consensos com o radicalismo, reforçados por sua vez pela gestão compartilhada no governo de Santa Fe. Por outro lado, a ausência de vínculos pessoais com os dirigentes peronistas, entre os quais a militância universitária possui um peso muito menor, pode ser vista como um obstáculo para o estabelecimento de acordos.

  • 19.

    Isso implica estabelecer vínculos com setores provenientes da tradição peronista, mas também – e talvez em primeiro lugar – com aqueles que aderiram ao kirchnerismo partindo de tradições de esquerda. É o caso do Novo Encontro e também dos «socialistas para a vitória».

  • 20.

    Sobre os debates dos anos 1990, v. Damián Corral: Otro país es (im)posible. El devenir de la centroizquierda en la Argentina. Del Frente Grande a la Alianza, Prometeo, Buenos Aires, 2015.

Este artículo es copia fiel del publicado en la revista Nueva Sociedad , Agosto 2016, ISSN: 0251-3552


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